Sob as Águas do Sena (por Peter P. Douglas)

(Quando os humanos se tornam a caça)

Sob as Águas do Sena emerge como uma obra cinematográfica que navega pelas águas turbulentas do suspense e do comentário social. Dirigido por Xavier Gens, o filme se apropria da icônica paisagem parisiense para desdobrar uma narrativa que mistura terror, ecologia e crítica social.A premissa é intrigante: tubarões assassinos no rio Sena, um cenário improvável que desafia a suspensão de descrença do público. A cinematografia capta habilmente a beleza e o horror, contrastando a serenidade do Sena com a ameaça latente que se esconde em suas profundezas.

A atuação de Bérénice Bejo, como a bióloga marinha Sophia, é convincente, transmitindo tanto a determinação científica quanto o trauma pessoal. Nassim Lyes e Iñaki Lartique oferecem performances sólidas, complementando o elenco com personagens que refletem as diversas reações humanas diante do perigo. A narrativa se beneficia dessas atuações, pois elas ancoram a história em emoções autênticas, apesar do cenário fantástico.

No entanto, o filme enfrenta críticas por sua abordagem do ativismo ambiental. Alguns veem como uma representação superficial, que não consegue capturar a complexidade e a urgência da causa ambiental. A trama, por vezes, parece ceder ao sensacionalismo, sacrificando a profundidade em favor de choques visuais e reviravoltas previsíveis. Isso é evidenciado pela divisão crítica, com uma aprovação de 63% no Rotten Tomatoes.

O roteiro, co-escrito por Gens, Sebastien Auscher e Yannick Dahan, é ambicioso, mas peca em alguns momentos por não explorar completamente as implicações de seus temas. A ideia de tubarões adaptando-se à poluição e invadindo águas doces é uma metáfora poderosa para as consequências humanas no meio ambiente. Contudo, essa metáfora às vezes se perde em meio a clichês do gênero e sequências de ação que priorizam o espetáculo em detrimento da substância.

Visualmente, o longa metragem é impressionante. A direção de arte e os efeitos especiais criam um ambiente imersivo que é ao mesmo tempo familiar e assustador. A trilha sonora complementa a tensão, embora em alguns momentos pareça sobrepor-se à narrativa, em vez de acentuá-la. O longa que tenta equilibrar entretenimento e mensagem, com sucesso variável. Enquanto oferece momentos de tensão genuína e reflexão sobre questões ambientais, não consegue evitar as armadilhas de seu gênero. Sob as Águas do Sena é um filme que provavelmente dividirá opiniões, mas que indubitavelmente contribui para o diálogo sobre cinema e meio ambiente. Para aqueles interessados em uma experiência cinematográfica que vai além do convencional, vale a pena mergulhar nas águas deste filme francês.

Publicado originalmente em https://www.parsageeks.com.br/2024/06/critica-filme-sob-as-aguas-do-sena.html

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