Screamboat – Terror a Bordo (por Casal Doug Kelly)

            Screamboat – Terror a Bordo (Screamboat, 2025), longa-metragem estadunidense de terror e comédia, distribuído pela Imagem Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 01 de maio de 2025, com classificação indicativa 18 anos e 102 minutos de duração.

            Em janeiro de 2022, o clássico “Ursinho Pooh”, de A.A. Milne, publicado em 1926, entrou em domínio público, e não demorou para que cineastas transformassem o icônico urso amante de mel em um assassino. O resultado foi “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, um filme de terror lançado em 2023, produzido com um orçamento modesto de seis dígitos e que arrecadou quase US$ 8 milhões de dólares.

            Vivemos na Era da Propriedade Intelectual, onde reutilizar imagens familiares é muitas vezes mais fácil do que criar algo totalmente novo. Assim, quando “Steamboat Willie (1928)”, a animação que deu origem ao império Disney, entrou em domínio público no início de 2024, a corrida começou para ver quem criaria o filme mais lucrativo sobre um rato sanguinário.

            Steven LaMorte assume a direção e coautoria de “Screamboat”, uma homenagem à Disney e à cidade de Nova York que explora de maneira ousada a presença de David Howard Thornton — famoso por interpretar Art, o Palhaço, na franquia “Terrifier” — no papel de Willie. Aqui, o personagem ganha uma nova roupagem como um Rato de Pizza deformado, determinado a espalhar o caos com assassinatos brutais.

            O filme é o tipo de produção que muitos críticos poderiam ignorar, mas se destaca entre os filmes de terror de micro orçamento justamente por nunca se levar a sério. Afinal, como poderia?

            É claro que o longa precisava de uma “final girl”, e essa é Selena (Allison Pittell), uma estilista que está naquela fase da vida em Nova York em que cogita seriamente voltar para Minnesota, o estado em que nasceu. Ela embarca na balsa de Staten Island tarde da noite, acompanhada por um grupo de princesas celebrando uma festa de aniversário — vestidas com trajes que evocam ícones da Disney. Com nomes que remetem a Ariel e Jasmine, elas fazem parte de uma trama que satiriza o império da Casa do Mickey.

            Selena, as princesas e todos os outros passageiros da balsa acabam servindo apenas como combustível para a trama de um filme sobre um rato de 60 centímetros de altura que assassina pessoas das formas mais criativas possíveis. Um dos maiores problemas do longa é o design da criatura, que transforma o vilão em uma animação em CGI que nunca parece realmente dividir o mesmo espaço físico com os outros personagens. Além disso, o expressivo Thornton é soterrado sob ainda mais maquiagem do que quando interpreta Art.

            Uma abordagem mais eficaz teria sido criar um Willie gigante, proporcional ao tamanho de Thornton, permitindo que ele causasse carnificina de maneira mais real. Do jeito que está, é difícil não se perguntar por que ninguém simplesmente pisa nele. Ou não, já que quem compra ingresso para assistir “Screamboat” não está preocupado com a lógica de um rato antropomórfico assassino. Eles estão lá pelo sangue, pelo humor e pela própria audácia da existência deste filme.

            É impossível não se divertir com a forma como LaMorte brinca com o domínio público, fazendo Willie assobiar músicas como “Take Me Out to the Ballgame” e “Pop Goes the Weasel” em vez de, claro, “It’s a Small World” (embora essa frase também apareça). Até as referências mais absurdas à Disney, e são muitas, arrancam risadas, enquanto você imagina os roteiristas se esforçando para encontrar as formas mais hilárias de misturar sua admiração por Walt com sua paixão por carnificina.

            É difícil imaginar alguém assistindo “Screamboat – Terror a Bordo” sem ter plena consciência de suas intenções. Não é o tipo de filme que se escolhe por falta de opções mais sofisticadas. Ainda assim, ele funciona bem o suficiente para ser recomendado, mesmo pra quem não estava exatamente ansioso para vê-lo.

            Poderia ser mais engraçado? Poderia! Poderia ser muito mais inteligente? Poderia! Poderia ter uma estética mais refinada? Poderia! Mas também poderia ter sido bem pior. No fim das contas, “Screamboat” entende que não precisa ser excepcional — basta abraçar sua própria loucura, mirando em apreciadores de filmes B.

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