Ritas (por Peter P. Douglas)

            Ritas (2025), longa-metragem documental nacional, co-distribuído pela Paris Filmes e Biônica Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 22 de maio de 2025, com classificação indicativa 14 anos e 83 minutos de duração.

            Dirigido por Oswaldo Santana, se propõe a capturar a essência multifacetada de Rita Lee, uma das figuras mais icônicas da música brasileira. O filme evita a armadilha comum dos documentários biográficos ao não se limitar a uma sequência de entrevistas convencionais. Em vez disso, constrói um mosaico vibrante e dinâmico da artista, alternando entre registros pessoais, animações e colagens caleidoscópicas.

            A abordagem do diretor é perspicaz ao permitir que a própria Rita Lee conduza a narrativa. O documentário se estrutura a partir de trechos de sua última entrevista e imagens registradas pela própria cantora, criando uma experiência intimista. A montagem habilidosa de Fernando Fraiha, Karen Harley e do próprio Santana costura passado e presente de maneira fluida, revelando não apenas a trajetória musical da artista, mas também sua personalidade irreverente e sua visão crítica sobre a indústria e a sociedade.

            O longa destaca momentos cruciais da carreira de Rita, desde sua expulsão dos Mutantes — um episódio que ela mesma atribui ao fato de ser mulher — até sua ascensão como uma das maiores artistas solo do Brasil. A relação com figuras como Gilberto Gil e Caetano Veloso é explorada com a devida importância, evidenciando o papel fundamental que tiveram em sua formação musical e no apoio à sua independência artística.

            Além disso, “Ritas” não se esquiva totalmente dos períodos turbulentos da vida da cantora, incluindo sua prisão durante a ditadura militar e a censura imposta a algumas de suas músicas.

            Visualmente, o documentário é ágil e envolvente. A escolha de evitar um formato tradicional e investir em uma estética mais experimental contribui para a sensação de movimento e energia que permeia toda a obra.

            A trilha sonora, composta por “Lança Perfume”, “Doce Vampiro”, “Ovelha Negra”, “Mania de Você”, entre outros sucessos da cantora, é inserida de maneira orgânica, funcionando como respiros emocionais que reforçam a conexão do público com a artista.

            Se há um ponto que poderia ser mais desenvolvido, talvez seja a exploração de algumas lacunas narrativas. A expulsão dos Mutantes, por exemplo, é tratada como um mistério, refletindo a própria percepção de Rita sobre o evento, mas poderia ter sido aprofundada com mais contexto histórico.

            Em resumo, “Ritas” é um documentário que honra Rita Lee com a grandiosidade que ela merece. É um retrato íntimo, complexo e musical, que não apenas revisita sua trajetória, mas também reafirma seu impacto cultural e sua relevância atemporal. Para fãs e novos espectadores, é uma experiência cinematográfica indispensável.

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