Possuído Pelo Demônio (por Peter P. Douglas)

            Possuído pelo Demônio (Possessed, 2000), longa-metragem estadunidense de terror dramático, produzido e distribuído diretamente para tv, com classificação indicativa 18 anos e 100 minutos de duração.

            Baseado no livro Possessed: The True Story of an Exorcism (1993) de Thomas B. Allen, que conta a verdadeira história do exorcismo demoníaco realizado pela Igreja Católica em 1947, inspirando William Peter Blatty a criar O Exorcista (1973).

            A trama ocorre nos Estados Unidos, início da década de 1950, onde Karl (Michael Rhoades) e Phyllis (Shannon Lawson) Mannheim estão perturbados devido ao comportamento demonstrado pelo filho de 11 anos, Robbie (Jonathan Malen). Após a morte de sua tia, o menino passou a falar obscenidades e em sua volta, passaram a acontecer manifestações de fenômenos poltergeist. Após pedirem a ajuda do padre Raymond McBride (Henry Czerny), este se junta a William Bowdern (Timothy Dalton), um padre católico da universidade local, e ambos chegam à conclusão de que Robbie está possuído. Eles abordam o arcebispo local (Christopher Plummer) sobre a realização de um exorcismo e recebem permissão, embora o arcebispo Hume seja cauteloso ao apoiar um ritual que a igreja considera pertencente à Idade Média, exigindo que o ato seja feito em total sigilo. Enquanto Bowdern pesquisa os rituais e inicia o exorcismo, o demônio traz de volta os fantasmas de seu passado para assombrá-lo, na época que era capelão, durante a Segunda Guerra Mundial.

            Steven E. de Souza – em sua terceira investida como diretor – é mais conhecido como roteirista, tendo vários roteiros de destaque no currículo, incluindo  48 horas. (1982), O Sobrevivente (1987),  Duro de Matar 1 (1988), Duro de Matar 2 (1990), Hudson Hawk (1991), Os Flinstones (1994) e Juiz Dredd (1995). A título de curiosidade, o filme anterior dirigido por Souza foi a adaptação para o videogame Street Fighter (1994), que foi amplamente ridicularizada.

            Há muitas promessas no que o longa poderia oferecer ao público, porém, tudo dá desastrosamente errado. Em vez de retratar uma versão real do exorcismo, Steven E. de Souza produz mais um filme de exorcismo que segue os mesmos clichês criados pelo O Exorcista, com uma terrível falta de originalidade.

            O roteiro até tenta, em alguns momentos, oferecer uma ambiguidade que questiona se a possessão era real ou não. Explicações mundanas sobre o que pode estar acontecendo, citando coisas como a falta de jeito de Robbie, seu amor por quadrinhos de terror, ventriloquismo e o possível abuso sexual cometido por um ministro batista. No entanto, o diretor Steven E. de Souza interpreta tudo com uma falta de jeito que atenua qualquer ambiguidade.

            Na encenação do abuso sexual, o que se vê é totalmente risível – o ministro (Richard Waugh) passando o braço em volta de Robbie e dizendo: “Temos que tirar você do ambiente em que essas coisas acontecem… Não, nesta casa. Há muito espaço na minha”, seguido por uma cena completamente ridícula em que o ministro tenta fotografar as manifestações do menino, mas suas câmeras falham, fazendo-o tropeçar e cair na cama, eventualmente, rasgando as roupas de Robbie, sendo flagrado pela empregada que pensa que ele está tentando fazer sexo com o menino. É de se perguntar o que diabos o diretor estava tentando mostrar com essa cena?

            Outras coisas são igualmente descuidadas. Como as tentativas de organizar um pano de fundo histórico para a história resultando apenas em imagens de TV da bomba atômica e de John F. Kennedy. O exorcismo em si é conduzido com um certo grau de drama – só que o resto cai no completamente absurdo.

            A trilha sonora de John Frizzell não se destaca, falhando em contribuir para a tensão que poderia elevar as cenas de terror a um patamar superior. O roteiro, co-escrito pelo diretor com Michael Lazarou, apresenta falhas em termos de concisão, com uma tendência a se prolongar desnecessariamente em certas partes.

            Em suma, Possuído Pelo Demônio, é uma adaptação desastrosa de uma história “real” que poderia trazer uma nova perspectiva para um tema tão explorado no cinema. O filme é uma decepção em múltiplos aspectos, e mesmo com um elenco de renome, não consegue prender a atenção do público. Curiosamente, pode ser que a expectativa de quais outros erros podem ocorrer até seu término, mantenha alguém desperto.

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