Porto Príncipe (por Casal Doug Kelly)

Porto Príncipe, drama dirigido por Maria Emília de Azevedo, aborda temas como racismo e xenofobia com uma sensibilidade rara e uma perspectiva inovadora. O filme narra a história de Bertha, interpretada magistralmente por Selma Egrei, uma viúva que vive isolada em uma chácara na serra catarinense, e Bastide, vivido pelo talentoso Diderot Senat, um imigrante haitiano que busca refúgio no Brasil após o devastador terremoto de 2010. A narrativa se desenrola com a chegada de Bastide à vida de Bertha, e a subsequente amizade que floresce entre eles, desafiando as barreiras do preconceito e da intolerância.

A diretora consegue capturar a essência dos personagens e a complexidade das suas interações com uma autenticidade que transcende a tela. A direção de fotografia destaca a beleza da serra catarinense, criando um pano de fundo que é tanto opressivo quanto poético. A trilha sonora, sutil e evocativa, amplifica as emoções dos personagens sem nunca se sobrepor à história.

O roteiro de Marcelo Esteves é rico em nuances, explorando não apenas a relação entre Bertha e Bastide, mas também os conflitos internos e externos que eles enfrentam. O filho de Bertha, Henrique, interpretado pelo convincente ator Leonardo Franco, serve como um antagonista cuja hostilidade para com Bastide revela as fissuras do racismo e do etarismo na sociedade contemporânea. A performance de Senat como Bastide é particularmente verdadeira, trazendo uma dignidade ao papel que é raramente vista em personagens de imigrantes no cinema brasileiro.

O longa não se esquiva de retratar as realidades brutais do racismo e da xenofobia, mas o faz de uma maneira que é tanto confrontadora quanto compassiva. O filme não oferece respostas fáceis ou soluções simplistas. Ao invés disso, convida o público a refletir sobre as complexidades desses problemas sociais e sobre o poder da empatia e da compreensão mútua.            

Em suma, “Porto Príncipe” é um filme que merece ser visto, não apenas pela sua qualidade, mas também pelo seu significado cultural e social, abordando de forma madura temas difíceis. Este filme é um testemunho do potencial do cinema como uma ferramenta para a mudança social e para o entendimento intercultural. Azevedo, em sua estreia como diretora de longa-metragem, demonstra uma compreensão profunda da linguagem cinematográfica e de como usá-la para contar histórias que importam. “Porto Príncipe” é, sem dúvida, um dos ótimos filmes que o cinema brasileiro tem a oferecer ao mundo neste ano.

Publicado originalmente em https://www.pegaessanovidade.com.br/pega-essa-dica-porto-principe/

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