O Sucessor (por Casal Doug Kelly)

            O Sucessor (Le Successeur, 2023), longa-metragem francês de drama e suspense, distribuído pela Bonfilm, com classificação indicativa 14 anos e 112 minutos de duração, dirigido por Xavier Legrand, explora temas complexos como o patriarcado, a violência e a herança emocional.

            O primeiro longa-metragem do ator francês que se tornou diretor, “Custódia”, foi uma estreia impressionante, digna dos sonhos de qualquer cineasta iniciante. Após sua estreia em Veneza em 2017, onde ganhou o Leão de Prata, o filme acumulou diversos prêmios, entre eles, quatro Césares na França, incluindo o de melhor filme. Mas será que o padrão foi mantido em sua segunda incursão como diretor?

            O roteiro coescrito por Legrand e Dominick Parenteau-Lebeuf adapta a história do romance de 2015 de Alexandre Postel, “L’Ascendant” (um título que pode significar tanto ascendente quanto antepassado). A trama segue Elias (Marc-André Grondin), um renomado diretor artístico de uma casa de alta costura em Paris, que viaja para o Canadá após a morte de seu pai, com quem tinha um relacionamento distante. Lá, ele descobre segredos sombrios que o forçam a confrontar seu passado e a herança emocional deixada por seu pai.

            Para aqueles que temem spoilers, é melhor parar de ler agora e, retornar mais para o final do texto, pois é impossível discutir sobre esse filme sem revelar algumas de suas principais reviravoltas.

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            O filme começa com um desfile de moda parisiense chamativo para a Maison Orsini, uma marca de luxo de alto nível cujo mais novo diretor artístico, Elias, está fazendo sua grande reverência. O show é um sucesso, embora Elias sofra de ataques de pânico regulares.

            Enquanto posava alguns dias depois para sua primeira grande sessão de fotos, Elias descobre que seu pai, Jean-Jacques, morreu de um ataque cardíaco, o que o leva a tirar uma semana de folga para poder voltar ao Canadá e lidar com todas as coisas administrativas, como organizar o funeral e vender a casa.

            Enquanto olha ao redor do modesto bangalô de seu pai nos subúrbios cobertos de neve de Montreal, Elias se depara com algo estranho: uma porta trancada para o porão. Ele planeja doar a casa para uma instituição de caridade e, portanto, precisa fornecer um inventário completo do que há nela, o que significa que ele tem que ir até o porão. Enquanto isso, o melhor e único amigo de seu pai, Dominique (Yves Jacques), aparece na porta, se apresentando gentilmente e esperando que ele e Elias possam organizar o funeral de Jean-Jacques juntos.

            Logo, Elias põe a mão na chave, e o que começou como um drama familiar sobre luto rapidamente se transforma em território de filme de terror quando ele desce as escadas do porão e descobre outra porta trancada, atrás da qual fica um túnel secreto que leva a uma sala secreta, onde uma jovem mulher (Laëtitia Isambert) foi sequestrada – claramente por um tempo muito longo.

            Elias surta, o que é normal. Mas o que ele faz em seguida desafia a razão, pelo menos para a maioria de nós. Em vez de chamar a polícia e libertar a prisioneira de seu pai, ele decide encobrir o incidente, supostamente para evitar que sua carreira na moda seja manchada.

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            É bem claro o que o diretor está tentando dizer: que os pecados do pai, por mais monstruosos que sejam, serão inevitavelmente repetidos por seus descendentes, apesar de toda a distância que foi colocada entre eles. O cineasta sugere esse legado, também na forma como o sotaque parisiense de Elias desliza de volta para o quebequense à medida que ele passa mais tempo em casa. O protagonista é muito bom, retratando na medida certa, um homem que carrega todo o peso de sua família em seus ombros até, finalmente, não ser capaz de suportá-lo.

            As performances secundárias também são fortes, e Legrand mais uma vez prova ser um diretor de atores sólidos e de time técnico robusto, trabalhando com a diretora de fotografia Nathalie Durand para criar um ambiente realista que eles conseguem sustentar até o amargo fim.

            Em resumo, “O Sucessor”, apesar do ritmo que pode parecer lento em alguns momentos, oferece uma experiência intensa e reflexiva. É um filme que vale a pena assistir, especialmente para aqueles que apreciam thrillers psicológicos e dramas emocionais. Legrand demonstra mais uma vez sua capacidade de explorar temas complexos e mantém seu padrão em sua segunda incursão como diretor.

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