O Mal Não Existe (por Peter P. Douglas)

(Um conto de gentrificação rural japonês)

            O Mal Não Existe (Aku Wa Sonzai Shinai, 2023), longa-metragem dramático japonês, distribuído pela Imovision, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, no dia 25 de julho de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 106 minutos de duração.

            Dirigido pelo aclamado cineasta japonês Ryûsuke Hamaguchi (Drive My Car, 2021), o filme é uma meditação profunda sobre as implicações éticas e ambientais do avanço capitalista. Através de uma abordagem contemplativa, Hamaguchi nos apresenta a vida de Takumi e sua filha Hana, residentes da vila de Mizubiki, perto de Tóquio, uma comunidade de apenas 6.000 pessoas, cujos moradores vivem em simbiose com o ambiente rural.

            As cenas iniciais, ricas em detalhes, não apenas estabelecem a simplicidade e autossuficiência da vida da família, mas também funcionam como uma metáfora para a preservação dos conhecimentos e tradições culturais. O conflito se instaura quando a vila é confrontada com um projeto promovido por uma empresa que ignora a cultura local e os recursos naturais, destacando a tensão entre progresso e preservação ambiental.

            A dicotomia entre os interesses da empresa e a vida cotidiana dos protagonistas é um tema central, com a empresa desconsiderando a opinião e a existência da comunidade local. A narrativa se desenrola com uma leve mudança de perspectiva dos funcionários da empresa (Takahashi interpretado por Ryuji Kosaka e Mayuzumi interpretado por Ayaka Shibutani), que começam a perceber o impacto real do projeto ao se envolverem com a comunidade.

            A consciência ecológica está no primeiro plano e tem na pequena Hana o ponto de equilíbrio, com a lei da causa e efeito sendo um tema subjacente. A mudança abrupta de tom no final do filme, com uma tragicidade desnecessária, pode ser vista como uma crítica à indiferença da humanidade, que muitas vezes só é abalada por eventos chocantes.

            Em resumo, “O Mal Não Existe” pode não ser totalmente bem-sucedido, uma vez que seu ritmo pode se tornar bastante maçante, mas certamente é fascinante vê-lo pintar um retrato tão sutil e reconfortante da humanidade, apenas para finalmente e amargamente nos lembrar que não existe natureza plenamente calma – humana ou não. Pois, mesmo que o mal não exista nesta comunidade pacífica e bucólica, a injustiça e o instinto animal certamente existem.

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