O Estranho (por Peter P. Douglas)

            O Estranho (2023), longa-metragem nacional dramático, distribuído pela Embaúba Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, no dia 20 de junho de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 107 minutos de duração.

            Explorando a interseção entre o passado e o presente em um território indígena onde se situa o Aeroporto Internacional de Guarulhos, a diretora Flora Dias, com formação em cinema pela UFF no Brasil e pela École Nationale Louis Lumière na França, traz para este projeto uma visão singular, marcada por sua experiência anterior em filmes que exploram temas de memória e identidade. Seu co-diretor, Juruna Mallon, complementa essa visão com um histórico em documentários que investigam a arte e a cultura, criando riquezas em contexto histórico e cultural.

            O filme se desenrola no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, um imenso complexo aeroportuário erguido sobre terras indígenas. Através do olhar sensível de Alê (Larissa Siqueira), uma funcionária da pista, somos convidados a mergulhar na rotina frenética do local, onde milhares de pessoas transitam diariamente, entre passageiros apressados e trabalhadores incansáveis.

            Mais do que um mero cenário, o aeroporto se configura como um microcosmo social, um espaço de convergência e intersecção de diferentes vidas e histórias. Alê, em sua jornada diária, se depara com fragmentos do passado que teimam em emergir, memórias ancestrais que se entrelaçam com o presente frenético do local. Através de um trabalho sensorial, o filme convida o espectador a se conectar com as percepções de Alê, imergindo em seus pensamentos, sensações e reflexões.

            O longa se constrói como um mosaico de imagens, sons e silêncios, onde cada elemento carrega consigo um significado próprio. A câmera de Flora Dias e Juruna Mallon captura com delicadeza a vastidão do aeroporto, contrastando-a com a intimidade dos personagens e seus momentos de introspecção. O som ambiente, rico em detalhes e texturas, contribui para a construção da atmosfera imersiva do filme.

            O elenco, foi cuidadosamente selecionado para representar a diversidade de personagens que habitam esse microcosmo. A atuação é autêntica e imersiva, dada a abordagem do filme que prioriza a experiência humana sobre a trama convencional. Larissa Siqueira entrega uma bela performance como Alê, capturando a complexidade das emoções da personagem. Os demais membros do elenco, como Antonia Franco, Rômulo Braga e Patricia Saravy, também contribuem para a riqueza da narrativa com suas atuações sólidas e expressivas.

            Visualmente, o filme é tão intrigante quanto seu conteúdo. Flora Dias, também diretora de fotografia, tem um histórico de trabalhos que capturam a beleza e a complexidade do Brasil, desde a necrópole musical de “Sinfonia da Necrópole” até a jornada introspectiva de “O Sol nos Meus Olhos”.

            Em suma, “O Estranho” tem a habilidade de provocar reflexão e interpretação, pois, não apenas conta uma história, mas também convida o público a se envolver com as questões que apresenta, como o diálogo global sobre identidade, memória e mudança.

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