
O Esquema Fenício (The Phoenician Scheme, 2025), longa-metragem estadunidense de comédia dramática, distribuído pela Universal Pictures, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 29 de maio de 2025, com classificação indicativa 14 anos e 101 minutos de duração.
O ano é 1950. Anatole Zsa-Zsa Korda, um enigmático mestre dos bastidores e especialista em acordos secretos, sobreviveu a mais uma tentativa de assassinato. Tomando o controle de seu avião particular avariado, ele aciona o assento ejetor do piloto e se prepara para um pouso forçado. Não é seu primeiro acidente aéreo — nem o segundo — embora, desta vez, pareça que possa ser o último. Ao recobrar a consciência em meio aos destroços, Korda descobre que as agências de notícias já começaram a divulgar seus obituários prematuros, pintando um legado pouco lisonjeiro. Mas algo extraordinário aconteceu: ele teve uma visão — a primeira de muitas — e afirma ter visitado o Céu.
A revelação, no entanto, não altera sua moral (ou a evidente ausência dela). Mas, por motivos que ele se recusa a explicar, Korda decide redigir um novo testamento, deixando todo seu império para sua única filha, Leisl. Enviada para um convento aos cinco anos com o objetivo de mantê-la “longe dos meninos”, ela, para surpresa de Korda, quer fazer os votos para se tornar freira.
É assim que começa “O Esquema Fenício”, uma fantasia de meados do século XX que evoca o inconfundível estilo de Wes Anderson. Com Benicio del Toro no papel de Korda — elegante, mas carrancudo — o protagonista se encaixa perfeitamente na tradição dos excêntricos, imperturbáveis e quixotescos de Anderson.
Constantemente perseguido por espiões e assassinos, Korda verifica cada bebida antes de tomá-la, temendo veneno, e nunca viaja sem sua peculiar caixa de frutas recheada de granadas.
Leisl (Mia Threapleton), sua filha, hesita em assinar os documentos que ele lhe apresenta. Primeiro, porque seus votos como freira contradizem os negócios e a vida caótica da família Korda. Segundo, porque sua mãe foi uma das várias Sra. Kordas que morreram em circunstâncias suspeitas, com Korda como principal suspeito — embora ele insista que não foi responsável.
Questões urgentes e intrigas estão em jogo. Enquanto Korda se recupera, seus inimigos se movem rapidamente para manipular o mercado global, desestabilizando seus ativos e ameaçando seu projeto mais ambicioso — uma gigantesca infraestrutura na politicamente instável Grande Fenícia Independente, no Oriente Médio.
Determinado a evitar o colapso de seus negócios, Korda parte para a Fenícia acompanhado por sua filha, Leisl, e seu tutor norueguês, agora secretário interino, Bjorn (Michael Cera, ostentando um sotaque absurdamente cômico). No caminho, ele precisa negociar com uma série de figuras suspeitas: um príncipe local (Riz Ahmed), um dono de boate francês (Mathieu Amalric), representantes americanos de interesses duvidosos (Bryan Cranston, Tom Hanks e Jeffrey Wright) e sua prima enigmática (Scarlett Johansson), que pode ser mais do que um simples membro da família. E, claro, há ainda seu meio-irmão desprezível, Nubar (Benedict Cumberbatch, usando uma barba postiça digna de uma fábula bíblica), cujo envolvimento levanta dúvidas sobre a segurança do império de Korda.
Comparado às ambições barrocas das obras mais recentes de Anderson, o filme apresenta um roteiro relativamente direto. Sem artifícios de distanciamento teatral, sem histórias dentro de histórias, sem estrutura de boneca russa, sem narração — apenas uma jornada pela Fenícia, onde Korda, Leisl e Bjorn percorrem um itinerário de personagens, cruzando caminhos com possíveis assassinos e revolucionários comunistas. A estrutura é episódica, ligeiramente vaga e, em alguns momentos, desajeitada. Até mesmo o estilo amplamente imitado e parodiado de Anderson, com suas simetrias, começa a perder força próximo ao final, culminando em um clímax incoerente (o fato de este ser o primeiro filme live-action de Anderson sem seu diretor de fotografia de longa data, Robert Yeoman, deve ser apenas parte da explicação).
Isso significa que o longa-metragem não tem a profundidade e o refinamento dos melhores filmes de Anderson. Embora Korda compartilhe características com os excêntricos que povoam a filmografia do diretor, ele carece das falhas humanizadoras de um Royal Tenenbaum ou um Steve Zissou, assim como das qualidades magnéticas e melancólicas de um Gustave H. Os únicos vislumbres de sua psique surgem em sequências recorrentes de sonhos em preto e branco sobre a vida após a morte, que servem, principalmente, como desculpa para membros habituais da companhia de Anderson aparecerem em papéis secundários.
Em determinados momentos, chega perigosamente perto de se tornar o tipo de filme visualmente excêntrico que Anderson é ocasionalmente acusado de fazer, mas que, na realidade, nunca entrega. O que salva o filme, periodicamente, é a precisão cômica característica do diretor. Parte do problema com as inúmeras paródias de Anderson que surgiram ao longo dos anos é que nenhuma delas consegue captar o timing impecável e o enquadramento preciso de uma piada ou uma transição abrupta de tom — o que, neste caso, inclui uma violência inesperadamente gráfica. Mesmo quando as piadas não estão no auge de sua qualidade, Anderson ainda consegue extrair risadas genuínas em “O Esquema Fenício”.