O Corvo (por Casal Doug Kelly)

(Um exemplo de como não se deve reimaginar um clássico)

            O Corvo (The Crow, 2024), longa-metragem estadunidense de ação dramática, distribuído pela Imagem Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 22 de agosto de 2024, com classificação indicativa 18 anos e 111 minutos de duração.

            Reimaginação do clássico cult de 1994, tenta se manter fiel ao espírito sombrio e vingativo da narrativa original, mas passa bem longe. O filme, dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador, 2012 e A Vigilante do Amanhã, 2017), apresenta Bill Skarsgård no papel icônico de Eric Draven, anteriormente imortalizado por Brandon Lee, e a cantora FKA Twigs como Shelly. A história segue o casal de almas gêmeas, Eric e Shelly, brutalmente assassinados, com Eric retornando do mundo dos mortos para “vingar” o amor de sua vida.

            O filme parece ter perdido o equilíbrio entre homenagear o material de origem e inovar. Sofre com múltiplos problemas de execução, entre eles, narrativa arrastada e falta de foco, que prejudica diretamente a experiência do público. A performance dos atores principais é insuficiente, provocando uma falta de profundidade emocional que impacta em conectar o público à trama central de amor e vingança.

            A abordagem estética do filme também é questionável, pois embora busque uma atmosfera neo-noir, acaba por se perder em um excesso de estilização que não contribui para o desenvolvimento da narrativa. O roteiro, escrito por Zach Baylin e William Schneider demora a estabelecer os eventos centrais e inclui flashbacks simbólicos que mais confundem do que esclarecem.

            A decisão de passar um tempo considerável (os primeiros 29 minutos) desenvolvendo a personagem de Shelly, é desanimadora, devido a qualidade da atuação. A direção de Rupert Sanders é sem inspiração, incapaz de capturar a essência sombria e poética que fez do filme original um cult clássico. Em termos de produção, o longa não é considerado um desperdício de recursos, mas sim uma obra que simplesmente “existe” sem deixar uma marca significativa. Uma das qualidades da produção é, sem sombra de dúvida, a violência, retratada de maneira excessivamente brutal.

            Em resumo, “O Corvo” parece ser uma tentativa mal-sucedida de recriar a magia do filme original. Apesar de alguns momentos brilhantes, os defeitos são muitos e comprometem a qualidade geral. A tentativa de ser fiel ao material de origem enquanto se busca uma nova direção resultou em um produto que não satisfaz nem os fãs nostálgicos nem um novo público, deixando a desejar em termos de coerência, emoção e impacto.

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