Lispectorante (por Peter P. Douglas)

            Lispectorante (2024), longa-metragem nacional dramático, distribuído pela Embaúba Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 08 de maio de 2025, com classificação indicativa 14 anos e 93 minutos de duração.

            Assistir a “Lispectorante” é entrar num mundo onde a realidade se mistura com pequenos toques de fantasia, como se a vida se revelasse em pedaços de luz e sombra. A diretora, Renata Pinheiro, traz uma visão que lembra a escrita de Clarice Lispector, transformando o dia a dia em algo surpreendente e levemente confuso. O filme não tenta copiar os textos de Clarice, mas sim capturar o seu espírito – aquele que mostra a beleza escondida nas coisas simples e toca o coração.

            Na história, seguimos Glória Hartman, vividamente interpretada por Marcélia Cartaxo, uma mulher que enfrenta uma crise e retorna para Recife, uma cidade cheia de lembranças antigas. Enquanto anda pelas ruas marcadas pelo tempo, Glória descobre a casa onde Clarice chegou a morar, um lugar cheio de memórias e segredos onde a luz da noite parece contar pequenas histórias misteriosas. Essa descoberta a leva a uma jornada íntima, onde os problemas da vida se misturam com sonhos e imaginação.

            A narrativa do filme é contada de forma fragmentada, como um poema que ainda está sendo escrito, onde cada cena nos faz refletir brevemente sobre a solidão, os reencontros e a passagem rápida do tempo. O roteiro, feito por Renata Pinheiro e Sergio Oliveira, combina o que é real com o que parece um sonho, criando uma atmosfera poética que convida o espectador a repensar o sentido das coisas. É um convite para deixar a mente viajar e sentir as emoções de forma profunda, num equilíbrio entre o caos e a beleza.

            Quanto aos personagens, cada ator mostra seus sentimentos de forma diferente. Marcélia Cartaxo, com sua atuação sutil e marcante, interpreta muito bem uma mulher que, mesmo enfrentando a dor, encontra uma chance de recomeçar. Ao seu lado, Pedro Wagner e Grace Passô dão apoio com atuações que variam entre o prático e o sonhador, demonstrando que, mesmo nos momentos difíceis, há uma luz que aquece o coração.

            “Lispectorante” é, portanto, um filme que, muito além de suas referências diretas à obra e à vida de Clarice, nos faz ponderar sobre a natureza volátil do tempo e da memória. Com toques de surrealismo e uma poética simples, o filme cria um diálogo com a nossa própria vida – com todas as dores e as belezas que ela traz.

            No final, o espectador fica com a sensação de que o filme, assim como a escrita de Clarice, nunca tem um fim definitivo, apenas mudando, num fluxo contínuo de imagens e sentimentos que se renovam a cada momento.

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