Kasa Branca (por Peter P. Douglas)

            Kasa Branca (2024), longa-metragem nacional de comédia dramática, distribuído pela Vitrine Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 23 de janeiro de 2025, com classificação indicativa 16 anos e 95 minutos de duração.

            O filme dirigido por Luciano Vidigal, conta a história de Dé (Big Jaum), um adolescente negro que vive na comunidade da Chatuba, em Mesquita, Rio de Janeiro, e que enfrenta o desafio árduo de cuidar da avó, Dona Almerinda (Teca Pereira), que está em fase terminal da doença de Alzheimer. Apesar das adversidades, Dé não se deixa abater e cuida amorosamente do único membro da família que lhe restou depois que seu pai (Babu Santana, em uma participação especial) o abandonou.

            O que torna o longa especial é a maneira como Vidigal rompe com os estereótipos tradicionais da representação da periferia no cinema brasileiro, ao explorar temas universais como família, amizade e perda, com uma perspectiva genuinamente tupiniquim, equilibrando adequadamente drama e comédia, de forma a proporcionar momentos de risadas e lágrimas ao mesmo tempo.

            A relação entre Dé e seus dois melhores amigos, Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), é retratada com um toque de ternura e realismo, mostrando como a amizade pode ser um pilar de apoio em tempos difíceis. Através das experiências desses jovens, surgem momentos de verdadeira poesia.

            Dé, todos os dias, não apenas cuida de sua avó, que não é mais autossuficiente, como também tenta dar a ela breves momentos de felicidade através de pequenos gestos de afeto. Por exemplo, ao mostrar a ela fotografias de sua juventude ou ao levá-la todas as noites para assistir ao trem passar no viaduto perto de sua casa, que talvez ela tenha usado uma vez para ir à cidade.

            Sua determinação em proporcionar momentos felizes à sua avó antes que ela faleça é inabalável. E apesar das dificuldades por ela estar em uma cadeira de rodas, Dé organiza viagens aos locais mais significativos de sua vida, na esperança de trazê-la de volta, mesmo que por breves instantes, à alegria do passado.

            Em meio a tudo isso, Dé, sem trabalho e pressionado pela proprietária do imóvel alugado em que mora – a quem costuma chamar de “Bruxa de Blair” -, ainda tem que lidar com a atração que sente pela mãe de Adrianim (Roberta Rodrigues).

            O importante é que, Dé, assim como conta com o apoio de seus amigos, também recebe ajuda de outros moradores da comunidade. Por exemplo, a ajuda que recebe de um antigo morador do local que, agora é um rapper famoso, e organiza um show gratuito no jardim da casa de Dé, conhecida como “Kasa Branca”, com o objetivo de arrecadar dinheiro para o aluguel e os medicamentos de Almerinda.

            Visto através dos olhos jovens e esperançosos dos protagonistas, o filme abre uma porta para o tema da solidariedade e do verdadeiro significado da felicidade. O filme, que em alguns momentos se assemelha a um conto de fadas, transmite ao espectador uma mensagem delicada e poética.

            A atuação é, de fato, simples, mas intensa e apaixonada, com uma representação de personagens perfeitamente alinhada à narrativa, realizada por um elenco formado por jovens atores brasileiros que buscaram representar o contexto “da rua”.

            Em resumo, “Kasa Branca” captura a vida na periferia de ângulos não convencionais, afastando-se do tom sombrio de outras produções, ao adotar uma perspectiva esperançosa, que mostra a solidariedade e a união como rotas de resistência. É uma obra que nos lembra da resiliência e da esperança que existe mesmo nas situações mais difíceis.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *