Grande Sertão (por Casal Doug Kelly)

Grande Sertão (2023), longa-metragem brasileiro de ação dramática, distribuído pela Paris Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas nacionais, no dia 06 de junho de 2024, com classificação indicativa 18 anos e 110 minutos de duração.

A mais recente obra cinematográfica do pernambucano Guel Arraes, é uma adaptação audaciosa e contemporânea do clássico da literatura brasileira “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. Trata-se de uma produção que desafia as convenções ao transpor a narrativa do sertão mineiro para uma realidade urbana e periférica, criando um paralelo entre as guerras de jagunços e as batalhas urbanas modernas.

A direção de Arraes é notável por sua capacidade de reinventar e atualizar a obra sem perder a essência poética e complexa do material original. Conhecido por trabalhos anteriores como O Auto da Compadecida (2000) e Lisbela e o Prisioneiro (2003), o diretor demonstra novamente sua habilidade em adaptar literatura para o cinema com uma visão única que desafia as expectativas do público.

O roteiro, coescrito pelo diretor com Jorge Furtado, é uma peça central na construção deste novo “Grande Sertão”, estabelecendo um diálogo entre o passado e o presente, entre o rural e o urbano, explorando temas atemporais como violência, poder, amor e redenção. A narrativa é habilmente construída, entrelaçando a jornada introspectiva do protagonista Riobaldo com as lutas e conflitos de uma comunidade sitiada por facções criminosas. O roteiro não se limita a contar uma história, provocando reflexões sobre a natureza humana e a sociedade contemporânea.

No que diz respeito ao elenco, Caio Blat entrega uma performance memorável como Riobaldo, capturando a complexidade e a profundidade do personagem com uma atuação que é ao mesmo tempo sutil e poderosa. Luisa Arraes, como Diadorim, traz uma presença enigmática e cativante, embora sua personagem merecesse um desenvolvimento mais aprofundado. Eduardo Sterblitch se destaca como Hermógenes, oferecendo uma interpretação visceral que é tanto perturbadora quanto magnética. Rodrigo Lombardi como Joca Ramiro, Luís Miranda como Zé Bebelo, Mariana Nunes como Otacília e Luellem de Castro como Nhorinhá também entregam atuações sólidas, contribuindo para a riqueza e a dinâmica do elenco.

Visualmente, o longa é uma obra de arte. A direção de fotografia de Gustavo Hadba é impressionante, capturando a beleza e a brutalidade do ambiente urbano com uma paleta de cores que reflete o tom da narrativa. A direção de arte de Valdy Lopes cria um mundo que é familiar e estranho, realista e fantástico, contribuindo para a imersão do espectador na história. A trilha sonora de Beto Villares complementa a atmosfera do filme, enriquecendo as cenas com uma camada adicional de emoção e tensão.

Em suma, “Grande Sertão” é um filme que não apenas adapta uma obra literária para o cinema, mas também a transforma, oferecendo uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo respeitosa e revolucionária. É um filme que merece ser visto e discutido, não apenas por sua qualidade técnica e artística, mas também por sua capacidade de provocar pensamentos e conversas sobre questões que são fundamentais para a sociedade brasileira e para a condição humana em geral.

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