Quase uma década depois de transformar o gênero de filmes de ação com Mad Max: Estrada da Fúria, George Miller retorna ao seu universo distópico, que começou em 1981, através de uma nova produção cinematográfica. A trama mantém elementos icônicos, como imensas dunas e veículos extraordinários, além de antagonistas mutantes que lembram piratas, ostentando nomes inusitados como Scrotus e Erectus, que sem dúvida foram escolhas surpreendentes. Contudo, este lançamento se diferencia do filme anterior em vários aspectos.
Furiosa: Uma Saga Mad Max é o primeiro filme da série que não conta com o personagem Max Rockatansky como protagonista, seja na versão original de Mel Gibson ou na mais recente por Tom Hardy. Embora não tenha atingido o status mítico de seu antecessor, este filme permanece como um marco importante, ainda que não se possa equipará-los.
Furiosa narra a trajetória de uma guerreira solitária e destemida, originalmente retratada por Charlize Theron em Mad Max: Estrada da Fúria. A história começa com a jovem Furiosa, interpretada por Alyla Browne, encontrando refúgio em um raro oásis verdejante no árido deserto australiano pós-apocalíptico. Sua vida toma um rumo inesperado ao ser capturada por Dementus, o excêntrico líder de uma gangue de motociclistas errantes, vivido por Chris Hemsworth.
Infelizmente, a sorte não sorri para a jovem Furiosa. Ela é entregue a Immortan Joe, interpretado por Lachy Hulme, um tirano enigmático que comanda a Cidadela, uma fortaleza de pedra, e é venerado por seus leais “meninos de guerra”, os mesmos combatentes albinos de Estrada da Fúria. Sob a proteção de Immortan Joe, Furiosa cresce e se transforma na figura que Anya Taylor-Joy encarna com maestria, destacando-se por seus expressivos olhos azuis que brilham intensamente, mesmo sob a poeira de tempestades de areia e o escuro do petróleo, como faróis cortando a noite.
A experiente Furiosa agora tem a missão de transportar mantimentos e combustível entre os três núcleos de sobrevivência no deserto: A Cidadela, a Cidade do Gás e a Fazenda da Bala. Sob a tutela de seu mentor reservado, Jack, cuja figura lembra Max Rockatansky e é vivido por Tom Burke, ela aprende as artes da guerra nas estradas. Contudo, seu desejo de vingança contra Dementus e o anseio de retornar à sua terra natal ainda verdejante permanecem.
Distanciando-se significativamente de seu antecessor, este filme adota uma estrutura episódica, com capítulos definidos, abrangendo diversos locais e linhas temporais. Anya Taylor-Joy e Tom Burke demoram a surgir na tela, e Chris Hemsworth desaparece por um longo período. O enredo se desenrola entre complexas negociações políticas e uma guerra que é condensada em uma rápida montagem.
Embora as acrobacias e perseguições automobilísticas continuem a impressionar, não conseguem superar as sequências dos filmes anteriores de Mad Max. A falta de um propósito narrativo imediato e claro torna os esforços de Miller para elevar o nível mais cansativos do que empolgantes. Eventualmente, o excesso de areia, explosões e violência sádica, juntamente com a trilha sonora ensurdecedora, torna-se opressivo, e o filme insiste em adicionar ainda mais destes elementos.
Mesmo respeitando a visão única de Miller e sua habilidade de transpô-la para a tela, é possível afirmar que, Furiosa assemelha-se a um spin-off de quadrinhos que busca preencher os intervalos entre os filmes de uma série, mas não consegue se alinhar completamente com o que o precede.
Publicado originalmente em https://www.pegaessanovidade.com.br/pega-essa-dica-furiosa-uma-saga-mad-max/
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