Autor de “A garota da ponte”, Vinicius Monfrinato reflete sobre a importância de retratar a saúde mental na literatura
Comportamentos autodestrutivos e dificuldades para se relacionar com outras pessoas podem ser vestígios de traumas gerados ainda na infância, como é o caso da protagonista de A garota da ponte, livro de estreia do escritor Vinicius Monfrinato. A obra alerta sobre a importância dos cuidados com a saúde mental e a necessidade de buscar ajuda de profissionais.
Neste suspense psicológico, o leitor é apresentado à Simone, que, após um grave acidente de carro, descobre segredos sombrios e traumas profundos provenientes dos abusos cometidos pelo pai na infância. Por meio de uma linguagem simples e sensível, o autor explora a complexidade da mente humana à medida que também atravessa outros debates importantes, como o racismo.
Em entrevista, Vinicius Monfrinato comenta detalhes sobre este lançamento e as referências para o thriller, além de destacar a importância de abordar questões sociais na literatura. Confira abaixo:
1 – Qual foi a sua principal inspiração por trás da produção de “A garota da ponte”? Por que decidiu enveredar pelo suspense psicológico e o que mais te atrai neste gênero?
Vinicius Monfrinato: A principal inspiração foi a vontade de realizar o meu sonho de escrever um livro. Essa história ficou guardada por 11 anos no meu computador. Quando me permiti olhar para dentro de mim e enxergar que eu era capaz de escrever essa trama, sentei-me na frente do computador, a li novamente, apaguei e comecei a reescrevê-la, mas deixando a essência que já existia ali.
Eu sou apaixonado por suspense psicológico, esse gênero sempre me atraiu. Acredito que temos essa curiosidade um pouco mórbida dentro de nós sobre alguns assuntos. Tanto é que o número de documentários e séries, com temáticas sobre desaparecimentos, assassinatos e saúde mental estão crescendo cada vez mais. A minha ideia foi atrair essa curiosidade das pessoas, abordando um tema tão importante a ser discutido.
2 – No livro, você aborda temas complexos como desigualdade social, racismo, violência sexual infantil e ambiente familiar tóxico. O que o motivou a incluir esses tópicos na trama? Como foi o processo de pesquisa para tratar desses assuntos de maneira próxima da sociedade atual?
V.M.: Esses temas estão presentes todos os dias em nossas vidas, por meio da televisão e das redes sociais. Não temos como fecharmos os olhos para o mundo em que vivemos. Eu sei que muitas vezes é indigesto enxergar a realidade, mas é necessário deixar a ferida exposta para quem sabe assim, as pessoas se mobilizem para que haja uma mudança nesse cenário triste em que vivemos. Um dos meus processos de pesquisa foi por meio de matérias, relacionadas a esses temas. Com isso, eu tentei deixar o assunto o mais próximo da nossa sociedade atual.
3 – Dados os episódios emblemáticos e traumas revelados ao longo da narrativa, como você desenvolve a complexidade emocional e saúde mental dos personagens?
V.M.: Sabemos que a desigualdade social e o racismo afetam muito o emocional das pessoas que convivem com isso. Cada um dos personagens tenta lidar com os próprios traumas e dores devido às ações do passado. Mas eu sinto que o Marcos é um personagem forte, pois a Simone, em um determinado momento da vida dele, foi o seu grande porto seguro. No caso de Simone e Flávia, a questão já é mais delicada, afinal, dentro daquela casa, houve muita manipulação emocional, causando danos severos em ambas.
4 – Para você, qual a importância de alertar sobre a saúde mental e trazer essas consequências de traumas para o centro da narrativa? O que os leitores podem aprender a partir de um enredo que aborda o assunto de forma cuidadosa?
V.M.: Eu espero que os leitores aprendam a importância de olhar para as pessoas à sua volta. Eu vejo que muitas coisas que aconteceram na história poderiam ter sido evitadas na vida de Simone e Flávia se as pessoas envolvidas tivessem olhado com mais atenção e seriedade para as duas. Por isso, a qualquer sinal estranho que você note, tente acolher a pessoa ao seu lado, a faça procurar por ajuda, pois, muitas vezes, as vítimas não têm coragem de se abrir. Precisamos ter esse olhar sensível para com o outro.
5 – A trama mescla eventos do passado e presente. Quais os desafios de conciliar duas linhas do tempo e garantir conectividade e coerência entre ambas, sem entregar o enredo?
V.M.: Quando eu estava escrevendo a trama, eu sabia que precisaria mesclar passado e presente, mas não tive muita dificuldade de conciliar as duas linhas do tempo. Joguei aos poucos as peças desse quebra-cabeça para não estragar o enredo. Então, quando o leitor chega ao final do livro, surpreende-se com o resultado ao encaixar a última peça nesse enigma mental.
6 – Você é declaradamente apaixonado por livros, filmes e séries. Diante disso, quais obras o inspiraram e por quê? Como esta bagagem cultural influenciou na sua escrita?
V.M.: Eu sempre amei séries, filmes e livros. Acredito que toda essa bagagem que fui adquirindo, consumindo durante esses anos, me influenciaram para chegar aonde estou hoje. As obras que me inspiram são “O Exorcista”, “O Iluminado” e “Psicose”. Lembro-me de assistir esses filmes com um brilho no olhar, enquanto todos estavam com medo e horrorizados. Tentava imaginar como os autores escreveram aquelas histórias fantásticas e que marcaram toda uma geração.
Sobre o autor: Apaixonado por livros, filmes e séries, Vinicius Monfrinato é paulistano e hoje vive em Santa Cruz Cabrália, na Bahia. É formado em Publicidade e Propaganda, mas descobriu que gosta mesmo é de escrever. Aos 41, após anos de escritas engavetadas, lança seu primeiro livro A garota da ponte – Entre segredos e mentiras.
Instagram do autor: @viniciusmonfrinato
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