De Menor – A Série (por Peter P. Douglas)

            Partindo da ideia original de seu longa-metragem “De Menor” (2013), a diretora paulistana Caru Alves de Souza, volta a abordar de maneira didática algumas das injustiças enfrentadas por adolescentes em situação de conflito com a lei, mas dessa vez, as retrata, intencionalmente, de forma não-naturalista.

            De Menor – A Série (Underage, 2024), é composta por 6 episódios independentes, possuindo uma estrutura dinâmica e experimental, o que permite explorar diferentes gêneros e estilos em cada episódio. Nesta crítica, focarei nos episódios, primeiro (onde a carga dramática é mais intensa) e terceiro (que adota um tom mais debochado).

            No primeiro episódio, acompanhamos a história de um personagem injustamente acusado de traficar drogas. Ao ser levado para o tribunal, seu destino será decidido por um juiz que, deve ouvir os argumentos tanto do promotor quanto da defensora pública. A acusação age de forma insensível, querendo a internação do adolescente acusado, ainda que vários detalhes não se consolidem com as provas apresentadas. Fato que a defesa tenta de todas as formas ressaltar, mas que esbarra no pré-julgamento do sistema judiciário. Esse primeiro episódio é responsável por mostrar de forma indiscutível o quanto a série é impecavelmente produzida.

            O terceiro episódio, dividido em três atos, utiliza uma abordagem mais cômica e satírica, assemelhando-se a um programa de TV estilo “Casos de Família”. Aqui, a versatilidade do elenco fixo de todos os episódios da série é evidenciada, pois os seis atores interpretam diferentes personagens em cada ato. O episódio, embora humorístico, reflete o comportamento absurdo das pessoas diante de determinadas situações.

            Um dos pontos fortes da série é a capacidade dos atores de se transformarem de um personagem para outro, explorando uma ampla gama de emoções e estilos de atuação. A dinâmica do elenco e a capacidade de adaptação são impressionantes, especialmente no terceiro episódio, onde a rotatividade de papéis destaca a habilidade dos atores em interpretar diferentes personagens de forma profunda e autêntica.

            Toda a ação ocorre em um teatro, o que transmite ao público a sensação de se estar assistindo a uma peça teatral, com cenários simples, mas bem elaborados. Os diálogos são bem escritos e os momentos de quebra da quarta parede são eficazes, contribuindo para a natureza provocativa e educativa da série.

            A série consegue, de forma leve, abordar temas complexos como a desigualdade social, a necessidade de ajuda e orientação para os jovens, e as falhas do sistema de justiça juvenil, ressaltando a importância de um judiciário que não se limite à condenação, mas que busque compreender e reabilitar.

            Em resumo, “De Menor – A Série” é uma obra que merece ser vista por seu impacto social e pela qualidade artística. A direção de Caru Alves de Souza, combinada com as atuações acima da média do elenco e o uso da abordagem experimental, resulta em uma série que é ao mesmo tempo reflexão e entretenimento de alto nível.

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