Confinado (por Peter P. Douglas)

            Confinado (Locked, 2025), longa-metragem estadunidense de suspense dramático, distribuído pela Diamond Films, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 29 de maio de 2025, com classificação indicativa 16 anos e 95 minutos de duração.

            No início do filme, a situação de Eddie Barrish (Bill Skarsgard) não é das melhores. Seu trabalho de entregador é interrompido por problemas na van, ele tem dificuldades para se fazer presente na vida da filha e está sem dinheiro. Tentando a vida no crime, Eddie encontra uma oportunidade de ouro: um carro de luxo destrancado em um estacionamento quase vazio. O que parecia um roubo fácil se transforma em um pesadelo quando Eddie fica preso no que parece ser um SUV modificado.

            Enquanto Eddie tenta desesperadamente escapar dessa armadilha sobre rodas, uma voz misteriosa, a de William (Anthony Hopkins), interfere. William parece querer usar a situação como um exemplo de justiça, punindo Eddie de várias formas remotamente. Eddie enfrenta o maior desafio de sua vida, lutando para sobreviver dentro do veículo.

            Inicialmente, “Confinado” gera preocupação. A edição confusa no começo do filme cria uma introdução estranha para o que deveria ser um thriller no estilo dos anos 90, que parece ter sido lançado diretamente em DVD. No entanto, surpreendentemente, assim como o carro misterioso, o diretor David Yarovesky esconde mais do que se espera.

            O filme rapidamente encontra seu equilíbrio. A partir do momento em que Skarsgard é capturado na engenhosa armadilha de Hopkins, a trama avança a todo vapor, impulsionada por uma energia crescente.

            A direção de Yarovesky, que no início parecia um tanto inexperiente, surpreende com cenas pontualmente elaboradas e truques de câmera que prendem a atenção. Yarovesky demonstra inteligência ao não estender a premissa além do necessário, potencializando o material entregue pelo roteiro de Michael Arlen Ross.

            O roteiro, inspirado em fatos reais e na adaptação de um thriller argentino de mesma premissa, é, em linhas gerais, satisfatório. Seu ponto forte reside na intensa batalha de personalidades entre Eddie e William. Os constantes embates verbais entre os dois geram momentos cômicos que aliviam a tensão do sofrimento de Eddie. A colisão desses dois mundos distintos é visível na forma como interagem. No entanto, quando Ross tenta aprofundar os dilemas morais que moldaram esses personagens, o comentário social se torna raso e tão risível quanto as tiradas de Hopkins. Essa superficialidade na escrita prejudica a caracterização de William, transformando-o em um antagonista caricato com visões extremas.

            Mesmo sem a necessidade de próteses, Skarsgard entrega uma atuação extremamente dedicada, que vai muito além do material que lhe foi dado. Sua entrega constrói um personagem pelo qual o público se identifica e torce facilmente. Eddie, embora seja um criminoso experiente tentando se redimir, não foge de estereótipos já conhecidos. A humanidade que Skarsgard infunde em Eddie é crucial para a visão de Yarovesky, e a química entre ele e Hopkins é vital para manter o filme interessante.

            A atuação de Hopkins é a que realmente surpreende. Embora o renomado ator oscarizado geralmente não “faça corpo mole”, e o nível de seu desempenho em projetos menos prestigiados possa variar, aqui seu timing cômico é simplesmente brilhante. Ele eleva as interações com Skarsgard, tornando os diálogos afiados e fazendo o filme parecer mais substancial do que é.

            Se o objetivo é entretenimento, Yarovesky acerta em cheio. Apesar de seus trabalhos anteriores não inspirarem grande confiança, este é, facilmente, seu filme mais digerível. “Confinado” se mostra um projeto significativamente mais coeso e completo quando comparado a obras como “Brightburn – Filho das Trevas” (2019). Yarovesky consegue injetar uma dose considerável de energia nesta premissa simples, de modo que suas falhas se tornam perdoáveis. A curta duração de noventa e cinco minutos também é um trunfo, impedindo que o interesse do espectador se dissipe, mesmo nos momentos em que o brilho da novidade começa a se esvair.

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