Charlie em Ação (por Casal Doug Kelly)

            Charlie em Ação (Fast Charlie, 2023), longa-metragem estadunidense de ação, estreia, oficialmente, no canal de streaming Adrenalina Pura, a partir do dia 01 de janeiro de 2025, com classificação indicativa 16 anos e 90 minutos de duração.

            Um sinal de que um ator é fantástico, se baseia na sua capacidade de capturar a atenção do público, mesmo sem fazer nada. Pierce Brosnan é exatamente assim. Com o passar dos anos (ele agora tem 70 anos e cabelos prateados), sua qualidade interior de elegante seriedade só se intensificou. Você é cativado por ele, ainda que esteja em silêncio, em parte porque ele projeta uma confiança inabalável.

            Isso o torna o ator perfeito para interpretar um assassino de aluguel experiente e, ao mesmo tempo, um cozinheiro gourmet altamente civilizado, em um quase drama policial ambientado no sul dos Estados Unidos.

            O filme é modesto, e é exatamente isso que o torna tão interessante. O veterano diretor Phillip Noyce apresenta a história em 90 minutos (um feito raro atualmente), encenando-a como uma jornada envolvente onde cada reviravolta na trama chega no momento certo para avançar a narrativa.

            Brosnan mantém o filme ancorado na realidade, convencendo o espectador de que há algo importante em jogo. Ele interpreta Charlie Swift, que passou 32 anos trabalhando para Stan (interpretado pelo falecido James Caan em seu último papel), um mafioso idoso que tem alzheimer e que também é seu amigo. Charlie vive em um bairro residencial modesto de Biloxi, Mississippi, em uma casa decorada com bom gosto e cheia de antiguidades. Ele é um veterano da Marinha que relaxa cozinhando comida italiana (ele serviu na Itália) e é o membro mais importante da equipe de Stan.

            Brosnan fala com um sotaque que mistura seu próprio sotaque refinado com um sotaque áspero. Embora não vá ganhar prêmios de autenticidade, é sonoro e expressivo; funciona bem para o personagem. Isso faz de Charlie, à sua maneira, um personagem original – um cavalheiro com um toque de ferocidade. Adaptado do romance de Victor Gischler, “Gun Monkeys” (com roteiro de Richard Wenk), o filme explora o que acontece quando a vida confortável de Charlie como assassino e solucionador de problemas da máfia é destruída da noite para o dia.

            Na abertura do filme, ele está em um ferro-velho, sendo ordenado a se despir, e narra: “Eu sempre pensei que minha vida acabaria assim, em algum lugar esquecido por Deus, com uma bala que eu não vi chegando. Mas nunca imaginei que me importaria.” O que se segue revela por que ele passou a se importar.

            A missão de Charlie era eliminar um homem chamado Rollo, a mando de seu chefe Stan. Durante essa tarefa, Charlie trabalha com um jovem conhecido como “Blade” por causa de sua ferramenta favorita. No entanto, após um incidente, Charlie passa a chamá-lo de “Donut”, apelido que o jovem detesta. As consequências dessa missão farão que, um gangster rival, Beggar Mercado (Gbenda Akinnagbe), decida matar Stan e toda a sua equipe, e ele quase consegue; tem homens e músculos para isso. Mas é Charlie, com sua atitude fria e determinada, que possui a força de vontade para sobreviver.

            Charlie tem um sonho que o mantém motivado: ele deseja comprar uma casa para reformar na Toscana italiana e se aposentar lá. O que o impede? Ele não quer fazer isso sozinho. É aí que entra a taxidermista Marcie Kramer (Morena Baccarin), a ex-esposa de Rollo. Ela tentou se manter fora de confusão, literalmente, morando em uma casa isolada sobre palafitas. Quando Charlie a encontra, a melhor parte da conexão deles é o quão casual e gradualmente se desenvolve. Baccarin, natural do Rio de Janeiro, possui uma alegria sonhadora que combina perfeitamente com a reticência charmosa de Brosnan. Quando os dois vão para Nova Orleans em busca das evidências escondidas pelo ex de Marcie, e que podem acabar de vez com Beggar, eles conseguem comunicar muito sem precisar dizer muito.

            Phillip Noyce, diretor de filmes variados, sempre foi um cineasta meticuloso. Em uma era de comédias de ação feitas para streaming, que muitas vezes parecem exagerar em seu próprio excesso, o estilo old-school de Noyce é apreciado por seu rigor e precisão. Neste longa, ele simplifica a ação sem exagerar, utilizando poeticamente tomadas aéreas e encenando uma cena digna do primeiro filme da franquia “Bourne”. Nesta cena, Charlie se esconde de um assassino em uma rampa de lavanderia de hotel, apertando-se contra as laterais para não escorregar, o que se torna ainda mais difícil quando o implacável assassino, conhecido como Freak (Christopher Matthew Cook), dispara sua arma pela rampa e o atinge na coxa.

            A habilidade daquela cena, assim como de boa parte do filme, reside no timing perfeito. Também há maestria nas peculiaridades e nos detalhes, como a discussão entre Charlie e Stan sobre se Charlie colocou coentro no frango, ou a lealdade que une Charlie e o segurança de um clube (David Chattam), que aparece para ajudá-lo no momento certo.

            Também somos brindados com Sharon Gless, interpretando uma sogra espetacularmente vulgar, e claramente se divertindo com o papel. Sem a fluidez, rapidez e habilidade do diretor Noyce, esse elenco envolvente poderia ter sido deixado à deriva, em vez de navegar até a conclusão inteiramente satisfatória que essa fábula criminosa oferece. Portanto, parabéns a todos.

            Em resumo, “Charlie em Ação, pode não ser uma mudança de paradigma no firmamento cinematográfico, mas como entretenimento noturno, cumpre bem seu papel.

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