Brasileiros de várias gerações, inclusive jovens, cultivam a memória de Pelé, revela pesquisa do Museu do Futebol

Levantamento mostra como o atleta do século XX é visto e lembrado por pessoas de várias faixas etárias, inclusive os mais novos; cerca de 300 termos foram relacionados ao nome do jogador; Museu do Futebol tem sala especialmente dedicada ao ídolo nacional

Sala Pelé no Museu do Futebol
Foto: Museu do Futebol/Nilton Fukuda

Ídolo máximo do esporte mais popular do Brasil e do mundo, verbete de dicionário utilizado para classificar alguém como excepcional e único, excelência em técnica e plástica… futebol traduzido na mais pura essência. Tudo isso serve para definir quem foi Edson Arantes do Nascimento (1940-2022), mas as percepções sobre o icônico Pelé são muito mais abrangentes e, ainda hoje, atingem as mais diversas gerações. Às vésperas do 84º aniversário do atleta do século XX, celebrado em 23 de outubro, o Museu do Futebol reafirma, a partir de um levantamento inédito, que o Rei é uma personalidade de amplo impacto em pessoas de todas as idades.

Localizado no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, o Museu é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo de São Paulo. O espaço acabou de passar por sua primeira grande reformulação e reabriu em julho de 2024 tendo como uma das grandes novidades uma sala nova dedicada inteiramente a homenagear Pelé. Durante o projeto, a equipe do Museu do Futebol se questionava: será que as gerações mais jovens conhecem Pelé e sabem de sua importância para o futebol mundial? A pesquisa mostra que sim. “No mundo de hoje os ídolos são muito passageiros. Pelé tem uma história espetacular, é reconhecido no mundo inteiro, e não poderíamos deixar de preservar sua memória e mostrar sua história”, diz Marcelo Duarte, um dos curadores do projeto de renovação, junto com Leonel Kaz e Marília Bonas.

Idealizada pela Agência Galo, o levantamento reuniu as palavras mais lembradas pelos brasileiros para definir o legado de Pelé. Mais de 300 termos capturados pela NÓS – Inteligência e Inovação Social, entre 23 de julho e 22 de agosto, traduzem as versões esportista, celebridade e pessoa do maior jogador de futebol de todos os tempos. Um dos curadores do projeto de renovação do Museu do Futebol, o jornalista Leonel Kaz vai além de uma palavra para definir a importância da figura icônica eternizada com a camisa 10 da Seleção Brasileira e do Santos entre os fãs do esporte. “O Pelé é um mito intergeracional que simboliza a alegria, a esperança, a capacidade criativa. Pelé é um compilado de significados que vão além do homem, do jogador”, ressalta.

A alta capacidade de alcance do legado de Pelé é evidenciada pela quantidade de palavras distintas (303) usadas pelos respondentes no momento de definir quem foi o jogador e como se recordam de sua trajetória esportiva. Multifacetário, o tricampeão mundial pela Seleção Brasileira recebeu lembranças ligadas, principalmente, a três vertentes: os atributos responsáveis por torná-lo um jogador único, a atuação no futebol e outros ligados à fama como craque, além de palavras relacionadas à vida pessoal do atleta.

Inédito, o levantamento reafirma a maneira positiva pela qual Pelé é rememorado pelos torcedores brasileiros. A palavra mais citada ressalta o valor do legado do atleta responsável por transcender o futebol e atingir as mais diversas massas de compatriotas: 59% dos respondentes o descreveram simplesmente como “Rei”. O índice cresce quando adicionado quem optou pelo termo conjunto “Rei do futebol”, reafirmando a maneira na qual Edson Arantes do Nascimento é reverenciado.

Há similitude entre vários termos ligados, basicamente, aos atributos responsáveis por tornar Pelé um jogador único, além da atuação da lenda com a bola nos pés e as características capazes de transformá-lo no maior ícone do esporte no mundo. A história do lendário camisa 10 se confunde com a da própria modalidade. Prova disso é o fato de a palavra “futebol” aparecer como a segunda de maior destaque no levantamento. “Craque” é a terceira lembrança mais citada pelos brasileiros quando ouvem o nome de Pelé.

Ídolo de gerações

A história de Pelé chega a todas as gerações de brasileiros. Isso se confirma, com clareza, a partir da similaridade dos termos escolhidos pelos mais jovens e por quem teve o privilégio de o ver desfilar nos gramados com as camisas de Santos, New York Cosmos e Seleção Brasileira para defini-lo. Em todas as faixas etárias, o termo Rei ainda se destaca, mas cada uma conta com palavras em especial responsáveis por ajudar a entender o poder de captação do Atleta do Século nas mais variadas idades.

Entre pessoas até 25 anos, as primeiras memórias vêm das camisas de Brasil e Santos. Os termos aparecem em destaque entre os respondentes da faixa etária. Além do tricampeonato mundial, Pelé é visto como um dos jogadores responsáveis pela popularização e ascensão da Seleção Brasileira a nível mundial. A camisa 10 alvinegra também é facilmente associada ao Rei do Futebol. Com ela, o jogador enfileirou 24 títulos oficiais e marcou grande parte dos gols da carreira: foram impressionantes 1.091 bolas na rede somente pelo clube paulista.

O recorte do levantamento envolvendo as pessoas com mais de 60 anos tem um detalhe especial: todas tiveram a oportunidade de assistir Pelé desfilar técnica e qualidade nos gramados. O atleta pendurou as chuteiras 1º de outubro de 1977, há 47 anos. Entre o público dessa faixa etária, os termos “gol” e “melhor” chamam a atenção. O primeiro faz alusão à veia artilheira do jogador responsável por marcar 1.283 vezes na carreira e escrever história do esporte, com o ineditismo da milésima bola na rede, alcançado em 19 de novembro de 1969, na vitória do Santos contra o Vasco por 2 a 1, no Estádio do Maracanã. Feito alcançado por poucos, o atributo é responsável por lembrá-lo para essa geração como o melhor.

Na visão de Leonel Kaz, o levantamento ratifica o potencial de eternidade de toda a trajetória construída pelo Rei do Futebol nos gramados, não apenas pela magia causada por lances plásticos e gols lendários, mas por ainda ser uma figura presente nas lembranças afetivas das mais diversas gerações. “Pelé parou de jogar há 50 anos e segue na memória brasileira do futebol, pois ele nos habita, representa o desejo, o instinto, possibilidades”, pontua.

Por regiões do Brasil

Ao longo da carreira como jogador profissional, Pelé desfilou em, pelo menos, 74 países, passando 256 cidades do redor do globo e brilhando em 276 estádios diferentes. Muitos dos palcos com o privilégio de presenciar as atuações do maior jogador de todos os tempos estão localizados em cidades espalhadas pelo Brasil. Mesmo ocorridas há meio século, as partidas carregam status de memoráveis e foram as responsáveis por moldar boa parte das memórias afetivas do povo brasileiro a respeito do jogador.

Do Oiapoque ao Chuí, o camisa 10 é unanimidade. No Sudeste, de acordo com o levantamento do Museu do Futebol, os fãs de Pelé lembram do esportista como “gênio”, “lenda”, “melhor do mundo”, e outros. No Nordeste, “campeão” e “fenômeno” estão entre as palavras mais citadas. No Sul do Brasil, o Rei do Futebol é definido com “gol”, “futebol” e “craque”. No Norte, ele é visto como “ídolo” e “único”. No Centro-Oeste, algumas das palavras mais associadas ao atleta são “Seleção” e “sucesso”.

Curiosidades

A amostragem do Museu do Futebol confirma: o maior legado deixado por Pelé aos brasileiros está nos gramados e nos grandes feitos construídos com a chuteira nos pés. Mas as definições da maior personalidade esportiva do país são abrangentes e vão além do âmbito do esporte. Alguns escolheram termos alternativos relacionados à vida do jogador para defini-lo. Assim, aguçaram o tamanho de Edson Arantes do Nascimento enquanto personalidade.

Parte dos respondentes o definiram com palavras como “famoso”, “celebridade” ou “fama”. Outros se lembraram do relacionamento de Pelé com Xuxa e utilizaram o nome da artista quando perguntados sobre o jogador. Embora o futebol de antigamente não se aproxime dos valores investidos na era moderna, alguns citaram “dinheiro” e “rico”. Até mesmo a versão política de Edson Arantes não foi esquecida. O termo “ministro” destaca a passagem da lenda na pasta de Esportes entre 1995 e 1998, no Fernando Henrique Cardoso.

Durante vários anos, Pelé viveu uma rivalidade com Diego Armando Maradona, com uma ampla discussão de quem, de fato, era o Rei do Futebol. Embora o hermano não tenha acumulado as conquistas esportivas protagonizadas pelo brasileiro ao longo da carreira, os argentinos sempre fizeram questão de manter acessa a chama do debate. E nem os brasileiros esquecem disso. Prova disso é o nome do camisa 10 da seleção albiceleste também ter sido associado em algumas lembranças do legado do Atleta do Século XX.

Quero ser Pelé

Ser amplamente ligado ao universo do futebol é sinônimo de construção de idolatrias e cada brasileiro apaixonado pelo esporte bretão sempre carrega consigo um nome com status de referência. E a vencedora figura esportiva associada a Pelé é costumeiramente alçada a um patamar especial no quesito. Desta forma, não faltaram termos para descrever o quão o jogador é visto como um espelho para quem deseja alcançar o estrelato com a bola nos pés ou, simplesmente, aprendeu a amar o esporte.

“Inspiração”, “exemplo”, “ícone”, “determinação”, “mestre”, “referência”, “gênio”, “representatividade”, “incomparável”, “excelência”, “dedicação”, “líder”, “inspirador”, “competente”. Não são poucos os termos escolhidos pelos brasileiros ouvidos pelo Museu do Futebol para elevar a condição de ídolo construída por Pelé. Mais uma prova do poder de perpetuação do legado construído pelo camisa 10.

Saudade

No futebol brasileiro, Pelé construiu toda a carreira com apenas uma camisa: a do Santos, clube no qual é ídolo máximo e constantemente reverenciado. De tão grande, a relação visceral entre o Peixe e o jogador faz a história de ambos se misturar. Até hoje, por exemplo, a equipe paulista joga com uma coroa acima do escudo oficial, ato em memória à extensa herança esportiva do atleta. O fato fez o clube ser o quarto termo mais associado ao jogador. 

Em âmbito internacional, Pelé se consagrou, entre tantos feitos, ao liderar a Seleção Brasileira nas conquistas dos títulos mundiais nas Copas de 1958, na Suécia, 1962, no Chile, e 1970, no México. Símbolo da brasilidade e do estilo de jogo bonito praticado no país pentacampeão, o camisa 10 eternizou a Amarelinha e foi vetor primordial na construção da nossa tradição enquanto país no futebol. Isso não é esquecido pelos torcedores e o termo “Brasil” fecha o top-5 das palavras mais ligadas à memória da lenda dos gramados.

O próximo 23 de outubro marcará o segundo aniversário de nascimento sem a presença física de Edson Arantes do Nascimento. O lendário jogador faleceu em 29 de dezembro de 2022, aos 82 anos, em São Paulo, e deixou uma sensação de vazio no coração de cada torcedor brasileiro encantado com a técnica, os dribles e os gols característicos do jogador. Mas quem tem tamanha história escrita de maneira tão bela, jamais será esquecido. “Saudade”, “inesquecível”, “respeito” e “memorável” foram os termos encontrados pelos respondentes para traduzir um fato há anos identificado até em filme: Pelé é, de fato, eterno.

Metodologia

O levantamento produzido pela Agência Galo para o Museu do Futebol utilizou uma metodologia estatística, na qual as palavras citadas pelos respondentes para definir Pelé passaram por análise descritiva por meio de frequências absolutas e relativas. As associações entre duas variáveis categóricas tiveram verificação pelo Qui-Quadrado (teste de hipóteses para encontrar um valor de dispersão para duas variáveis categóricas nominais e avaliar associações entre variáveis qualitativas) e o teste exato de Fisher (avalia a associação entre duas variáveis categóricas e compara grupos de amostras independentes).

Quando houve divergência nas distribuições, foi utilizado resíduo ajustado padronizado para identificar as diferenças locais (caselas com valores absolutos acima de 1,96 indicam evidências de associações entre as categorias relativas). Todas as percepções coletadas foram avaliadas mediante nuvem de palavras e análise de similitude. Em todos os testes estatísticos, foram utilizados um nível de significância de 5%. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o software estatístico Stata 18.0 e o aplicativo textual Iramuteq.

SOBRE O MUSEU DO FUTEBOL 

Localizado numa área de 6.900 m² no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho – o Pacaembu – o Museu do Futebol foi inaugurado em 29 de setembro de 2008 e foi um dos pioneiros do país na utilização de recursos audiovisuais e interativos para tratar de um patrimônio imaterial. É um museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, concebido pela Fundação Roberto Marinho e administrado pela Organização Social de Cultura IDBrasil Cultura, Educação e Esporte.

O projeto de renovação é a primeira grande intervenção realizada no Museu nestes quinze anos e tem o objetivo de promover atualização tecnológica, implementação de novas experiências interativas e inclusão de novos conteúdos. Entre os destaques, estão a maior presença do futebol de mulheres e uma nova sala em homenagem a Pelé.

Ao longo dos primeiros quinze anos de funcionamento, o Museu acumula mais de 4,7 milhões de visitantes presenciais, 22 exposições temporárias realizadas e outras 17 virtuais, mais de 440 eventos de programação cultural e 635 mil estudantes atendidos pelo Núcleo Educativo. É uma instituição de referência em acessibilidade para todos os públicos, tendo recebido vários prêmios na área.

PATROCINADORES E PARCEIROS DA TEMPORADA 2024 

 A temporada 2024 do Museu do Futebol conta com patrocínio do Grupo Globo, Goodyear, Sabesp, Adidas, Rede, e Mercado Livre. Conta ainda com apoio da Farmacêutica EMS, Arkema e Evonik Brasil. As empresas parceiras são Pinheiro Neto Advogados e Banco Safra. Revista Piauí, Gazeta Esportiva, Guia da Semana, Dinamize e JCDecaux são parceiros de mídia. A temporada é realizada pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

Museu do Futebol 

Praça Charles Miller, s/n – Estádio do Pacaembu – SP 

Funcionamento

Terça a domingo, das 9h às 18h (entrada permitida até 17h). 

Ingressos

Podem ser adquiridos pelo site e aplicativo Sympla.

Grátis para crianças até 7 anos  

Grátis para todos às terças-feiras

Saiba mais: www.museudofutebol.org.br

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