Bandida – A Número 1, é um filme baseado no livro “A Número Um” de Raquel de Oliveira e faz uma transposição de obra excelente, adaptando a história real de Rebeca (interpretada por Maria Bomani), a primeira mulher a chefiar o tráfico na favela da Rocinha.
A trama dirigida por João Wainer, mergulha profundamente na atmosfera do Rio de Janeiro dos anos 80, apresentando uma abordagem crua e visceral da realidade da época, onde a violência e o tráfico de drogas já eram elementos dominantes na vida das comunidades.
A cinematografia do longa-metragem é bem-feita, capturando a essência do Rio com suas cores vibrantes e contrastes gritantes. A direção de fotografia merece elogios por conseguir transmitir, através da lente, a tensão e a dinâmica de poder que se desenrolam na trama.
A atuação de Jean Luis Amorim como Pará, o marido de Rebeca, é convincente e traz uma camada adicional de complexidade ao filme. Milhem Cortaz, no papel de Seu Amoroso, entrega uma performance que oscila entre o paternal e o ameaçador, um reflexo da ambiguidade moral que permeia os personagens do filme.
O roteiro, coescrito por João Wainer e Patrícia Andrade, é bem construído, com diálogos que soam autênticos e personagens bem desenvolvidos. A trama se desenrola de maneira envolvente, mantendo o espectador atento às reviravoltas e ao desenvolvimento psicológico de Rebeca. A progressão da personagem de uma inocente vendida pela avó a uma líder implacável é feita de forma convincente, sem cair em clichês ou simplificações.
A trilha sonora do filme também é digna de nota, com uma seleção de músicas que não apenas complementam a narrativa, mas também ajudam a estabelecer o período histórico em que a história se passa. O design de som é eficaz em imergir o público na realidade da Rocinha, com todos os seus sons característicos e intensidade.
No entanto, o filme não está isento de críticas. Alguns podem argumentar que a representação da violência é excessiva e que poderia haver uma maior exploração das nuances e complexidades dos personagens secundários. Além disso, a rapidez com que alguns eventos chave são resolvidos pode deixar o espectador querendo mais desenvolvimento e profundidade em certos aspectos da história.
Em suma, Bandida – A Número 1 é um filme que não tem medo de confrontar o espectador com a realidade brutal de seu cenário. É uma obra que desafia, que provoca reflexão com performances fortes, uma direção segura e uma narrativa envolvente, é um filme que merece ser visto e discutido.
Publicado originalmente em https://www.pegaessanovidade.com.br/bandida-a-numero-1/
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