Baile das Loucas (por Peter P. Douglas)

(Ser diferente nunca foi tão perigoso)

            Baile das Loucas (Captives, 2023), longa-metragem francês dramático, distribuído pela Imovision, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 22 de agosto de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 111 minutos de duração.

            Dirigido por Arnaud des Pallières, mergulha o público na atmosfera da Paris do final do século XIX, mais precisamente no ano de 1894. A narrativa se desenrola em torno do infame evento conhecido como Baile das Loucas, realizado anualmente durante o Carnaval no hospital psiquiátrico La Pitié Salpêtrière.

            O filme explora a linha tênue entre a sanidade e a loucura, retratando a vida de mulheres que, por desafiarem as normas sociais da época, são rotuladas como insanas e confinadas à instituição. A protagonista, Fanni, interpretada por Mélanie Thierry, é uma mulher de 35 anos que se interna voluntariamente no hospital com o objetivo de encontrar sua mãe, vítima da internação forçada, e assim planejar uma fuga. O elenco ainda inclui Josiane Balasko, Marina Foïs e Yolande Moreau.

            A obra é uma crítica contundente à forma como a sociedade marginaliza e rotula as mulheres, especialmente aquelas que demonstram autonomia e vontade própria. O baile, um evento que atrai políticos, artistas e socialites de toda Paris, serve como pano de fundo para a exposição dessa realidade cruel. As pacientes, vestidas de forma extravagante, são apresentadas aos convidados como parte de um espetáculo grotesco, onde a linha entre o entretenimento e a exploração é perigosamente borrada.

            O diretor utiliza a câmera, muitas vezes de forma inquieta, com o uso de zooms e uma certa instabilidade visual no intuito de contribuir para uma experiência imersiva, fazendo com que o público se sinta como um intruso clandestino nas sombrias paredes de La Pitié Salpêtrière.

            O roteiro é habilidoso ao entrelaçar várias subtramas sem perder o foco na jornada de Fanni. A interação entre as internas, suas histórias e a solidariedade que surge em meio ao sofrimento são aspectos que enriquecem a narrativa, construída com cuidado, para permitir que o público compreenda as motivações e os desafios enfrentados pelas personagens.

            Em suma, “Baile das Loucas” não é apenas um filme histórico, é uma reflexão sobre a condição feminina e a luta contra a opressão, desafiando o público a refletir sobre as consequências de uma sociedade que estigmatiza e pune a individualidade. É um lembrete sombrio de um passado não tão distante.

Compartilhe