As Vozes (por Peter P. Douglas)

(As vezes ouvir a voz interna não é a melhor opção)

            As Vozes (The Voices, 2014), longa-metragem estadunidense dos gêneros terror, drama e comédia, com classificação indicativa 16 anos e 107 minutos de duração. Dirigido por Marjane Satrapi, segue a história de Jerry Hickfang, interpretado por Ryan Reynolds, um homem com uma mente esquizofrênica que vive uma existência solitária, trabalhando em uma fábrica de banheiras. A narrativa se desenrola de forma inusitada quando Jerry começa a ouvir vozes de seus animais de estimação, que o influenciam em uma série de eventos trágicos e cômicos.

            A performance de Reynolds é um ponto alto do filme, trazendo nuances a um personagem que poderia facilmente cair no caricato. Ele consegue equilibrar o humor negro com momentos de emoção, criando uma empatia com o público mesmo durante as cenas mais sombrias. Gemma Arterton e Anna Kendrick, que interpretam respectivamente Fiona e Lisa, colegas de trabalho de Jerry, complementam o elenco.

            A direção de Satrapi é inventiva, utilizando uma estética quase surreal para representar a perspectiva distorcida de Jerry. O roteiro de Michael R. Perry explora temas complexos como a solidão, a busca por amor e a luta contra demônios internos, sem nunca simplificar a condição psicológica do protagonista. Ao invés disso, o filme convida o espectador a uma reflexão sobre a natureza da realidade e a fragilidade da mente humana.

            A trilha sonora e o design de som também merecem destaque, pois amplificam a atmosfera imersiva e contribuem para a construção da tensão narrativa. As vozes dos animais, que poderiam ser um elemento trivial, são tratadas com seriedade e se tornam cruciais para a compreensão das motivações de Jerry.

            Contudo, o longa pode não ser para todos os gostos. Seu humor negro e abordagem de temas sensíveis podem dividir o público. Alguns podem encontrar na obra uma sátira inteligente e uma crítica social afiada, enquanto outros podem percebê-la como insensível ou desconcertante. A dublagem, especialmente na versão brasileira, também recebeu críticas por não capturar totalmente o espírito do original, o que pode afetar a experiência de quem assiste ao filme nesse formato.

            Em suma, “As Vozes” é um filme que se destaca pela originalidade e pela coragem de explorar o lado sombrio da psique humana com um olhar que é ao mesmo tempo crítico e compassivo. Para aqueles que apreciam filmes que fogem do convencional é, sem dúvida, uma recomendação válida.

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