Aqui (por Peter P. Douglas)

            Aqui (Here, 2024), longa-metragem estadunidense dramático, distribuído pela Imagem Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 16 de janeiro de 2025, com classificação indicativa 12 anos e 104 minutos de duração.

            Você já viu aqueles comerciais que aparecem perto dos feriados, cheios de clichês sentimentais sobre amor, família e fraternidade, promovidos por corporações sem alma como parte de suas campanhas anuais de fim de ano? Imagine um desses estendido para 104 minutos, e você terá “Aqui” de Robert Zemeckis.

            O conceito do filme, inspirado na Graphic Novel de 2014 de Richard McGuire, consiste em posicionar a câmera em um único local para retratar todos os eventos que ocorreram naquele mesmo ponto ao longo da história. Utilizando quadros dentro do quadro, a narrativa faz a transição de uma época para outra de forma fluída.

            No início, vemos uma terra aberta, proporcionando vislumbres de várias épocas, desde a morte dos dinossauros, passando pela vida dos nativos americanos, e até mesmo a casa do filho afastado de Benjamin Franklin. Com a chegada do século XX, o local se transforma na sala de estar de um duplex, e passamos a acompanhar a vida de alguns dos moradores dentro dessas paredes. Na década de 1910, vemos Pauline Harter (Michelle Dockery) constantemente preocupada com a possibilidade de que seu aventureiro marido John (Gwilym Lee) possa morrer no moderno avião, que parece ser o centro de sua vida. Na década de 1940, por outro lado, acompanhamos um casal entusiasmado e feliz (David Flynn e Ophelia Lovibond) trabalhando juntos em uma das maiores invenções do século.

            Durante aproximadamente 60 anos, e por grande parte da duração do filme, a casa pertence à família Young. Ela foi adquirida logo após o fim da Segunda Guerra Mundial pelo soldado Al Young (Paul Bettany) e sua esposa Rose (Kelly Reilly), que criaram seus três filhos naquele lar. Um dos filhos, Richard (Tom Hanks), cresce com o sonho de se tornar artista, mas esses planos são interrompidos quando ele engravida sua namorada do ensino médio, Margaret (Robin Wright). Eles se casam, e Richard aceita um emprego como vendedor de seguros para sustentar a família. Como as finanças estão apertadas, eles são obrigados a se mudar para a casa dos pais de Richard. Embora sempre falem em ter seu próprio lugar, Richard nunca parece disposto a tomar essa decisão.

            Com o passar dos anos, acompanhamos os Young’s testemunhando tanto eventos históricos significativos quanto os desafios cotidianos que todos enfrentamos — como nascimento, morte, amor, depressão, infidelidade, insatisfação conjugal e cuidar de pais idosos —, tudo isso a partir da mesma perspectiva fixa.

            Quanto ao conceito formal e à concepção visual, que parecem ter sido os principais pontos de interesse de Zemeckis, nenhum deles se destaca de forma particularmente eficaz. Embora a ideia de contar toda a história a partir de uma perspectiva específica possa parecer interessante nas páginas de uma história em quadrinhos, onde as imagens são estáticas, isso não se traduz bem para o cinema. Cenas importantes são apresentadas de forma estranhamente encenada, e, com o tempo, você começa a se perguntar quantos nascimentos, mortes, encontros sexuais e epifanias dramáticas ocorrerão exatamente no mesmo ponto onde os Young’s colocaram a mesa estendida para o jantar de Ação de Graças.

            Ainda mais desastroso é o uso da tecnologia de rejuvenescimento digital para fazer os atores parecerem mais jovens (e eventualmente mais velhos) do que realmente são. O resultado é artificial e distrai mais do que impressiona. Essa técnica já havia sido alvo de críticas quando Martin Scorsese a utilizou em “O Irlandês” de 2019, mas pelo menos lá, foi empregada com moderação. Neste filme, a técnica é utilizada de forma constante e nunca funciona adequadamente — isso enfraquece as emoções que os personagens tentam transmitir e torna a experiência visual menos envolvente.

            Além disso, o filme parece se perder em sua própria complexidade, apresentando muitos eventos importantes de forma estranha e episódica. O ritmo do filme é inconsistente, e o público pode se sentir sobrecarregado com a quantidade de informações sendo apresentadas.

            Zemeckis ainda tem a capacidade de ser um cineasta convincente quando deseja. No entanto, neste projeto, ele parece se entregar aos seus piores hábitos, arrastando consigo bons atores como Hanks e Wright. Metade do diálogo de Wright parece ser alguma variação sobre como o tempo voa.

            Em resumo, “Aqui” é um filme que tem um conceito interessante e uma premissa promissora, mas falha em sua execução cinematográfica. A técnica visual e o uso de rejuvenescimento digital são o que mais prejudicam a experiência, tornando o filme menos impactante do que poderia ter sido.

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