Aquela Sensação Que o Tempo de Fazer Algo Passou (por Peter P. Douglas)

            Aquela Sensação de Que o Tempo de Fazer Algo Passou (The Feeling That the Time for Doing Something has Passed, 2023), longa-metragem de comédia dramática, distribuído pela Synapse Distribution, estreia, oficialmente, nos cinemas, no dia 27 de junho de 2024, com classificação indicativa 18 anos e 88 minutos de duração.

            Explora as complexidades da vida moderna e as consequências de nossas escolhas, ou a falta delas. A roteirista e diretora Joanna Arnow apresenta uma narrativa que é ao mesmo tempo íntima e desconfortável, levando o espectador a refletir sobre as próprias experiências e anseios.

            O filme segue a protagonista Ann, interpretada pela própria Arnow, em sua jornada por relações casuais e práticas de BDSM, enquanto simultaneamente lida com a desumanização progressiva no ambiente de trabalho e uma relação familiar distante e mecânica.

            A estrutura do filme em capítulos, cada um nomeado após um personagem masculino significativo na vida de Ann, serve como um dispositivo narrativo eficaz que permite ao público entender melhor a protagonista e suas motivações. A performance de Arnow é crua e autêntica, capturando a essência de uma mulher que não se conforma com as expectativas sociais e busca satisfação em suas próprias condições, mesmo que isso signifique enfrentar o julgamento dos outros.

            O filme aborda temas como a desmistificação do BDSM e a autonomia feminina em um mundo que ainda luta para aceitar expressões não convencionais de sexualidade. A direção de fotografia, embora simples e sem grandes produções, complementa o tom realista e quase documental do filme, permitindo que a história e os personagens brilhem sem distrações desnecessárias.

            No entanto, o filme não é sem falhas. Alguns podem achar o ritmo inconsistente, e as performances secundárias, embora competentes, não alcançam o mesmo nível de profundidade que Arnow traz para a tela. Além disso, a representação do tédio e da insatisfação da vida de Ann pode ser desconfortável para o público, levando a uma experiência de visualização um tanto alienante.

            Em resumo, “Aquela Sensação de Que o Tempo de Fazer Algo Passou” é um filme corajoso que desafia as convenções e oferece uma visão sincera sobre a vida de uma mulher que vive à margem das normas sociais. É um cinema que não se esquiva de sua verdade, mesmo que essa verdade não seja facilmente digerida. Com uma direção firme e uma narrativa que se recusa a simplificar a complexidade humana, o filme é uma adição valiosa ao circuito independente.

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