“Ainda Não é Amanhã”, de Milena Times, é premiado no Festival do Rio.

Filme venceu prêmio de Melhor Atriz para Mayara Santos na 26a edição do Festival. Obra retrata os conflitos de uma gravidez indesejada

O Festival do Rio 2024 anunciou na noite deste domingo (13) os vencedores do Troféu Redentor da Première Brasil, ao qual concorreram 51 filmes na competição principal e na Novos Rumos, e 35 produções ao Prêmio Felix. A cerimônia de premiação aconteceu no Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro e foi apresentada por Fabíola Nascimento e Juan Paiva.

AINDA NÃO É AMANHàvenceu o Prêmio de Melhor Atriz para Mayara Santos que participou da mostra competitiva de longas, na seção Novos Rumos da 26a edição do Festival do Rio. Dirigido pela pernambucana Milena Times, diretora dos curtas Represa (2016) e Au Revoir (2013), o filme é produzido por Dora Amorim, Júlia Machado e Thaís Vidal. A produção é da Espreita Filmes, Ponte Produtoras e Ventana Filmes, com distribuição da Embaúba Filmes.

A obra acompanha a trajetória de amadurecimento de Janaína (Mayara Santos), uma garota negra de 18 anos que foi criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição). Três gerações de mulheres que dividem afetos, ambições, embates e espaço em um pequeno apartamento da periferia do Recife. Janaína é bolsista em uma faculdade de Direito e se vê diante da oportunidade de ser a primeira pessoa da sua família a obter um diploma universitário. Quando descobre que está grávida, ela começa a colocar em perspectiva os seus planos, a trajetória da sua família e suas próprias escolhas.

Milena conta que o filme nasceu do desejo de falar sobre famílias formadas por mulheres, sobre as dinâmicas particulares que se estabelecem no convívio entre elas, investigando o que há de semelhanças e diferenças, de reproduções e transcendências. O tema da maternidade sempre esteve presente, mas havia também o desejo de abordá-lo não como algo mandatório na vida de uma mulher, e sim uma escolha. “Mulheres optam pela interrupção voluntária da gravidez em qualquer lugar do mundo, por inúmeras razões, independente de ser permitido. As restrições sociais e legais só contribuem para que seja uma prática insegura e desassistida, especialmente para a parcela de mulheres com menos instrução e poder aquisitivo. Boa parte dos efeitos individuais e sociais mais danosos são resultado da própria criminalização, do silêncio, da falta de informação.”

Trabalhando no roteiro desde 2016, Milena revela que a história passou por muitas mudanças, inclusive influenciadas pela conjuntura no país ao longo dos últimos anos. “Ao invés de avançar na discussão, vemos direitos já previstos por lei serem sistematicamente ameaçados. Por isso, me parece ainda mais relevante tratar sobre o assunto.”

O filme aposta em um ponto de vista muito íntimo e mergulha na experiência atravessada pela personagem para abordar todas essas questões. É a partir do cotidiano privado e dos dramas individuais e partilhados que vão se relevar as opressões de uma sociedade conservadora, violenta e desigual, mas também apontar para um horizonte de mudança, acolhimento e parceria. “Parto muito da sensação – ou seria uma constatação? – de que, via de regra, tanto na vida cotidiana como nos momentos críticos, nós mulheres só podemos contar verdadeiramente umas com as outras. Em se tratando da maternidade, ou da escolha de não ser mãe, talvez isso seja ainda mais verdadeiro. Mostrar essa rede de cuidado, suporte e cumplicidade entre mulheres também sempre foi um dos meus desejos com esse filme.”

Ao selecionar o trio de atrizes que fariam as personagens centrais de AINDA NÃO É AMANHÃ, Milena conta que a afinidade entre Mayara, Clau e Claudia surgiu muito espontaneamente, mas a intimidade e sutilezas nas relações foi algo construído durante um intenso processo de preparação de elenco conduzido por Amanda Gabriel. O elenco ainda conta com a artista-visual Bárbara Vitória, como Kelly, melhor amiga de Janaína, e Mário Victor, como namorado da protagonista. A arte de Lia Letícia e a fotografia de Linga Acácio, premiada por longas como Estranho Caminho (de Guto Parente), ressaltam a atmosfera intimista do filme. Já o som, encabeçado por Martha Suzana e Nicolau Domingues, aposta na organicidade da vida cotidiana, mas também mergulha na sensorialidade que a suspensão de quem está atravessando um grande conflito proporciona.

O filme foi finalista do Prêmio Cabíria de Roteiros e passou por laboratórios como BrLab e Cabíria Lab. Como work in progress, passou pelos eventos Conexão Brasil Cinemundi da Mostra de Tiradentes 2024 e Copia Final do Ventana Sur 2023, e agora foi premiado no evento carioca. AINDA NÃO É AMANHàconta com patrocínio da Ancine, FSA e BRDE e incentivo do Funcultura/ Fundarpe/ Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco e do SIC – Sistema de Incentivo à Cultura/ Fundação de Cultura Cidade do Recife/ Secretaria de Cultura/ Prefeitura do Recife.

Assista ao trailer

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