Ainda Estou Aqui (por Casal Doug Kelly)

            Ainda Estou Aqui (I’m Still Here, 2024), longa-metragem nacional dramático, distribuído pela Sony Pictures, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 07 de novembro de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 135 minutos de duração.

            Dirigido por Walter Salles, o filme, indicado como o representante brasileiro a uma vaga no Oscar 2025, na categoria Melhor Filme Internacional, é uma adaptação do livro homônimo e autobiográfico, escrito em 2015, por Marcelo Rubens Paiva, trazendo uma narrativa que intercala momentos de intensa emoção com uma crítica social aguda, capturando a complexidade da experiência humana diante de um passado político conturbado.

            Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva, casada com Rubens Paiva (Selton Mello), outrora deputado do Partido dos Trabalhadores, que um dia é levado por militares à paisana e desaparece. Diante disso, resta a Eunice buscar informações sobre o paradeiro de seu marido, bem como, se reorganizar para cuidar dos cinco filhos do casal.

            Fernanda Torres entrega uma performance memorável, possivelmente a melhor de sua carreira, ao retratar uma mulher que luta para reconciliar as memórias de um Brasil ditatorial com a realidade de um país em constante mudança. Selton Mello, ao lado de Torres, oferece uma atuação igualmente poderosa e carismática, cheia de nuances que refletem a complexidade de seu personagem.

            Todo o elenco de apoio – que inclui nomes como Dan Stulbach e Fernanda Montenegro – complementa a narrativa com atuações sutis, porém acima da média. A direção de Walter Salles é meticulosa, utilizando-se de uma cinematografia que realça a beleza e a dor presentes no enredo. A trilha sonora, por escolha do diretor, existe abundantemente durante boa parte de seu início até que, após o sumiço de Rubens, deixa de existir.

            Ainda que aclamado por sua abordagem honesta e sensível de temas difíceis, o longa por vezes peca pelo ritmo inconsistente, alternando entre sequências de grande tensão e outras que parecem estagnar a progressão da história. Além disso, a tentativa de abarcar uma gama tão ampla de experiências sociais e individuais em um único filme às vezes resulta em uma narrativa fragmentada, que desafia o espectador a manter-se conectado ao fio condutor da história.

            Em termos de produção, o filme se destaca pelo uso inteligente de locações, que autenticamente retratam o período histórico em questão. A edição é competente, mas há momentos em que a transição entre cenas poderia ser mais suave para não comprometer a imersão do público. A direção de arte merece elogios por recriar com fidelidade a atmosfera da época, contribuindo significativamente para a credibilidade do universo do filme.

            Em resumo, “Ainda Estou Aqui” é um filme que, apesar de algumas falhas, representa um marco importante para o cinema brasileiro. Ele não apenas dialoga com questões sociais e históricas relevantes, mas também oferece um espaço para atuações excepcionais. É uma oportunidade de apreciar as habilidades de Walter Salles em criar obras que são, ao mesmo tempo, profundamente nacionais, mas que também ecoam universalmente.

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