Adeus, Garoto (por Peter P. Douglas)

            Adeus, Garoto (Ciao Bambino, 2024), longa-metragem dramático italiano, distribuído pela Pandora Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 08 de maio de 2025, com classificação indicativa 16 anos e 96 minutos de duração.

            No bairro de Rione Traiano, em Nápoles, Attilio (Marco Adamo), um jovem de 17 anos, se vê obrigado a quitar as dívidas acumuladas por seu pai — interpretado por Luciano Pistone, que, curiosamente, é o próprio pai do diretor. O credor, o implacável Vittorio (Pasquale Esposito), não facilita sua situação.

            Em meio a esse cenário de tensão, Attilio acaba protegendo Anastasia (Anastasia Kaletchuk), uma jovem prostituta ucraniana que trabalha para o cafetão inescrupuloso Martinelli (Salvatore Pelliccia).

            Esse submundo criminoso serve de pano de fundo para o primeiro longa-metragem de Edgardo Pistone, que mergulha na brutalidade e nos dilemas morais de seus personagens.

            A opção de filmar inteiramente em preto e branco se revela especialmente eficaz. Embora a trama se desenrole nos tempos modernos, com referências explícitas à guerra na Ucrânia e à Nápoles contemporânea, a escolha estética do diretor intensifica a universalidade e a força da narrativa, criando uma imersão que prende o espectador. Esse recurso se torna ainda mais impactante em diversas cenas sem diálogos, onde a trilha sonora assume protagonismo sem jamais perder sua dinâmica.

            Os dois jovens protagonistas demonstram plenamente seu talento, com uma presença física que reforça a autenticidade e a dureza de crianças obrigadas a amadurecer precocemente. Attilio rapidamente desenvolve sentimentos profundos por Anastasia — ele transita entre menino, homem e criança, alternando coragem e ingenuidade. Como era de se esperar, Anastasia reluta em compartilhar sua história. Marcada pela brutalidade da realidade, ela fugiu de seu país devastado pela guerra e agora vive distante de sua família.

            De maneira mais ampla, o elenco se destaca como um dos grandes trunfos do filme, com cada ator perfeitamente encaixado em seu papel. Através de suas interpretações, eles oferecem um retrato implacável, mas real, de uma comunidade onde crianças são obrigadas a arcar com as dívidas e os erros de seus pais, presas em uma realidade miserável da qual não há verdadeira escapatória.

            Com grande coragem e autoridade — qualidades raras em uma estreia, especialmente no cinema italiano atual — Pistone constrói uma narrativa ambientada em um universo já amplamente explorado no cinema e na televisão. No entanto, ele imprime uma visão singular, evitando tanto o sentimentalismo excessivo quanto os estereótipos, ao mesmo tempo em que desenvolve conflitos e personagens com uma profundidade incrível.

            Em resumo, “Adeus, Garoto” é um filme direto, apoiado por uma equipe técnica impecável. Embora sua narrativa não traga grande originalidade, a obra entrega uma experiência emocionalmente densa e envolvente. Perto de seu desfecho, é possível prever o rumo dos acontecimentos, mas o verdadeiro impacto reside na incerteza sobre como e quando tudo se desenrolará.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *