A Ordem do Tempo (por Peter P. Douglas)

(O tempo segue sua trajetória e a nós só cabe observar)

A Ordem do Tempo, dirigido pela veterana cineasta Liliana Cavani, é uma obra que desafia as convenções narrativas ao abordar a complexidade da física quântica e a iminência do apocalipse através de uma lente intimista e humanizada. O filme, inspirado no livro homônimo do físico Carlo Rovelli, explora a relação entre o tempo e a experiência humana, um tema que ressoa profundamente com a condição atual da diretora, que retorna ao cinema após um longo hiato.A narrativa se desenrola em uma casa de praia, onde um grupo de amigos se reúne para celebrar um aniversário, apenas para descobrir que um meteoro ameaça a existência da Terra. Este cenário catastrófico serve como pano de fundo para uma série de diálogos introspectivos que revelam as angústias, esperanças e medos mais profundos dos personagens.

Cavani opta por uma abordagem clássica na direção, evitando o sensacionalismo e focando na substância emocional das interações entre os personagens. A decisão de manter a ameaça do meteoro restrita ao conhecimento dos personagens principais é uma escolha narrativa ousada que intensifica o drama e destaca a disparidade social, uma vez que os personagens são em sua maioria da elite intelectual e profissional. A empregada peruana e o magnata do mercado financeiro representam as exceções, cada um com seus próprios dilemas morais e existenciais, embora o tratamento dado a esses personagens secundários possa ser visto como uma oportunidade perdida para explorar uma gama mais ampla de perspectivas.

filme brilha em sua capacidade de tecer considerações filosóficas sobre o tempo e a mortalidade em conversas que oscilam entre o erudito e o coloquial, permitindo que o público se envolva com os temas sem se sentir sobrecarregado pelo jargão científico.

A cena em que uma personagem escolhe dançar como seu último ato de celebração da vida é particularmente tocante, contrastando com a exclusão da empregada, que observa à distância, simbolizando talvez a distância social que persiste mesmo diante do fim iminente.

A cinematografia do longa-metragem captura a beleza melancólica dos momentos finais dos personagens, enquanto a direção de Cavani garante que cada cena seja carregada de significado e emoção. O elenco, liderado por Claudia Gerini e Edoardo Leo, entrega performances convincentes que dão vida à complexidade dos seus personagens, tornando suas jornadas pessoais reais para o público. A Ordem do Tempo é uma meditação poética e provocativa sobre o fim da humanidade e o que valorizamos quando confrontados com nossa mortalidade. Permanece como um testemunho poderoso da habilidade de Cavani em criar uma obra que é tanto uma reflexão sobre o fim quanto uma celebração da vida e das conexões humanas.

Publicado originalmente em https://www.parsageeks.com.br/2024/06/critica-cinema-ordem-do-tempo.html

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