A Musa de Bonnard (por Peter P. Douglas)

            A Musa de Bonnard (Bonnard, Pierre et Marthe, 2023), longa-metragem francês dramático, distribuído pela Califórnia Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, no dia 06 de junho de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 120 minutos de duração.

            Um mergulho na vida e arte do pintor francês Pierre Bonnard (1867-1947) e sua relação com Marthe de Méligny, sua esposa e musa. Dirigido por Martin Provost, o filme biográfico explora não apenas a trajetória artística de Bonnard, mas também a complexidade de seu relacionamento com Marthe, que foi essencial para a sua obra. O roteiro, co-escrito pelo diretor e por Marc Abdelnour, tenta capturar a essência dessa relação quinquagenária, embora para aqueles que conhecem a arte do pintor, seja possível apontar falhas na construção dos personagens e na coerência narrativa.

            Cécile de France, que interpreta Marthe, é uma escolha que gerou divisões de opinião. Enquanto alguns acreditam que ela não conseguiu transmitir o enigma que era Marthe, outros elogiam sua atuação, destacando a profundidade e a complexidade que trouxe à personagem. Vincent Macaigne, no papel de Pierre Bonnard, também recebeu críticas mistas. Após a exibição do filme, no Festival Varilux 2023, alguns espectadores o consideraram uma nulidade, enquanto outros apreciaram a sutileza e a introspecção de sua atuação.

            Visualmente, o longa é impressionante, capturando a essência do final do século XIX e início do XX, com uma atenção particular às pinturas e à vida do protagonista. A direção de arte e a fotografia são pontos altos, proporcionando uma imersão estética que complementa a narrativa. A representação do estúdio de Bonnard em Paris, as festas na casa de Mísia Godeska, e a casa à beira do rio onde ocorrem cenas marcantes, são exemplos da habilidade do filme em criar um ambiente rico e envolvente.

            A montagem do filme é outro aspecto que merece elogios, com uma estrutura que permite uma fluidez na transição entre cenas, embora haja momentos em que o ritmo parece lento. A trilha sonora, embora não seja o foco principal, acompanha bem os momentos chave, reforçando a atmosfera do filme.

            Em termos de direção, Martin Provost demonstra uma habilidade em contar histórias visuais, embora sua abordagem possa não agradar a todos. Ele opta por uma narrativa que enfatiza a poesia visual, o que pode ser interpretado como uma liberdade artística que tanto homenageia quanto se distancia da realidade.

            Em suma, “A Musa de Bonnard” é um filme que tenta equilibrar a biografia com a arte, o amor com a criação. Apesar de algumas críticas quanto à execução e fidelidade histórica, não se pode negar o esforço em retratar a vida de um artista e sua musa de uma maneira que ressoa com a beleza e complexidade de suas obras. É um filme que certamente provocará discussões entre os amantes da arte e do cinema, e que, independentemente das opiniões divergentes, contribui para o diálogo sobre a intersecção entre a vida e a arte.

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