
A Lenda de Ochi (The Legend of Ochi, 2025), longa-metragem de fantasia, coproduzido entre Estados Unidos, Finlândia e Grã-Bretanha, distribuído pela Paris Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 29 de maio de 2025, com classificação indicativa 12 anos e 95 minutos de duração.
A estreia do roteirista e diretor Isaiah Saxon, se dá com o título da A24, “A Lenda de Ochi”, que traz uma rara sensação de magia cinematográfica em um período em que muitos filmes apostam na nostalgia para atrair público. A obra remete à época das locadoras de VHS, quando jovens, igual a mim, exploravam prateleiras em busca de histórias que estimulassem a imaginação, com mundos ricos e efeitos visuais impressionantes.
Sem suavizar seu impacto emocional, o filme aborda a transição para a vida adulta, mostrando que nossos pais não são figuras perfeitas, mas pessoas que também cometem erros. O resultado é uma narrativa que envolve e inspira, despertando admiração, mesmo com suas imperfeições.
O longa leva os espectadores à ilha imaginária dos Cárpatos, onde uma aldeia vive aterrorizada pelos Ochi, criaturas temidas por atacarem o gado. Para Yuri (Helena Zengel), uma jovem corajosa, essas feras podem ter sido responsáveis pelo desaparecimento de sua mãe, segundo seu pai, Maxim (Willem Dafoe).
Maxim, determinado a enfrentar os Ochi, forma um grupo de crianças, incluindo Petro (Finn Wolfhard), irmão adotivo de Yuri, para caçá-los à noite. No entanto, um evento marcante separa um filhote de Ochi de sua mãe, despertando em Yuri um forte desejo de protegê-lo. Conforme sua afeição pelos animais cresce, ela começa a questionar as crenças do pai e embarca em uma jornada emocionante e perigosa para devolver o pequeno Ochi a sua família.
Saxon combina técnicas de CGI com efeitos práticos para criar um cenário visualmente impressionante, que parece existir fora do tempo e da realidade. Na aldeia rural dos Cárpatos, passado e presente se misturam — cavalos dividem espaço com carros, enquanto Yuri curte heavy metal e seu pai, vestido com uma armadura, aprecia músicas folk antigas.
O mundo do filme ganha vida com pinturas detalhadas, animatrônicos e marionetes incríveis para representar os Ochi, além da beleza natural dos Cárpatos, que reforça o encanto da história. Saxon também traz sua experiência em videoclipes para a produção, garantindo que o design de som e a trilha sonora causem tanto impacto quanto os efeitos visuais e a direção de arte, tornando a jornada de Yuri ainda mais envolvente.
Por ser uma obra ambiciosa, desafia qualquer ator, especialmente alguém tão jovem quanto Zengel, que teve que dar vida à complexa Yuri. A visão de Cárpatos criada por Saxon é tão rica e detalhada que poderia facilmente ofuscar seus personagens, assim como o volumoso casaco amarelo que parece engolir quem o veste.
No entanto, o filme brilha ao focar na relação de Yuri com o filhote de Ochi que ela resgatou, deixando a dinâmica familiar cada vez mais complicada. Zengel traz frescor ao papel, interpretando Yuri com uma firmeza impressionante, sem hesitar em expor as falhas de Maxim e, mais tarde, de Dasha (Emily Watson), uma reclusa das montanhas que transita entre o mundo humano e o animal.
Yuri é determinada e destemida, capaz de enfrentar desafios perigosos, mas também é uma jovem vulnerável lidando com a fragilidade de sua família. Sua coragem em se expressar, independentemente das circunstâncias, torna sua jornada cativante, reforçada pelo vínculo especial com o pequeno Ochi. É nesse momento que a magia dos fantoches se revela de forma mais marcante.
A jornada emocional do filme estabelece um paralelo entre a família de Yuri e a do jovem Ochi, refletindo a busca da protagonista por reconstrução e pertencimento. Saxon constrói essa narrativa com visuais imersivos e criaturas cativantes, mas enfrenta desafios com o desenvolvimento de seu elenco de apoio.
O personagem de Wolfhard, quase silencioso, sugere uma história familiar rica, mas que nunca se concretiza totalmente, deixando Petro sem um papel significativo. Além disso, os momentos finais entre Yuri, Dasha e Maxim parecem apressados e carecem do impacto necessário para importar emocionalmente em seu nível máximo, a quem assiste. No fim, é a trilha sonora marcante de David Longstreth que sustenta grande parte da carga emocional do filme.
Esta aventura fantástica voltada para a família resgata técnicas tradicionais para criar uma experiência mágica e envolvente. A estreia de Saxon impressiona pelo uso de animatrônicos e marionetes, além de sua mitologia original, que dá vida ao universo do filme sem recorrer a franquias já conhecidas.
Saxon reinventa a estrutura da Jornada do Herói, priorizando o trabalho artesanal sobre a narrativa convencional, resultando em uma conquista técnica evidente. Com isso, “A Lenda de Ochi” tem potencial para marcar uma nova geração de cinéfilos, ainda que pertença a um nicho específico deles.