Herege (por Peter P. Douglas)

            Herege (Heretic, 2024), longa-metragem estadunidense de suspense psicológico e terror, distribuído pela Diamond Films, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 21 de novembro de 2024, com classificação indicativa 16 anos e 110 minutos de duração.

            Dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, conhecidos pelo trabalho na franquia “Um Lugar Silencioso”. O filme é estrelado por Hugh Grant, Sophie Thatcher e Chloe East, e explora temas filosóficos que questionam a essência da fé e da crença.

            O filme se inicia com uma conversa prolongada sobre preservativos e sexo. Duas jovens missionárias mórmons da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias estão discutindo sobre preservativos e por quê alguns são rotulados como grandes, embora todos sejam praticamente um tamanho padrão. “Em que mais acreditamos por causa do marketing?”, uma pergunta a outra. Essa fala ecoará por todo o filme.

            A trama acompanha a irmã Barnes e a irmã Paxton em uma missão. Como membros da Igreja Mórmon, elas foram enviadas como missionárias para pregar sua fé a qualquer um que quisesse ouvir. Muitas das pessoas que elas encontram não estão interessadas, desviando o olhar e passando rápido quando as jovens tentam começar uma conversa.

            Mas ser ignorada é melhor do que ser zombada por suas roupas modestas e maneiras peculiares. “As pessoas acham que somos estranhas”, lamenta a ingênua e jovial Irmã Paxton. A mais cautelosa, Irmã Barnes responde: “Quem se importa com o que as pessoas pensam?” Então, elas seguem em frente, elaborando uma lista de nomes de pessoas que haviam indicado em algum momento que poderiam estar interessadas em aprender mais sobre o mormonismo. Ainda assim, ninguém se interessou.

            No final do dia, só resta um nome na lista: Sr. Reed, que mora afastado da cidade. Elas andam até a casa dele e batem na porta. Para a surpresa delas, o Sr. Reed não só atende a porta, mas parece interessado no que as jovens têm a oferecer. Ele as recebe em sua casa. O Sr. Reed está ansioso para falar sobre o mormonismo. Ele é fascinado pela fé religiosa, estudou teologia e até possui uma cópia do Livro Mórmon. Barnes e Paxton estão emocionadas por terem encontrado alguém tão receptivo à sua mensagem.

            E então o Sr. Reed começa a fazer perguntas. Inocente o suficiente no começo, mas as coisas logo tomam um rumo desconfortável. Parece haver algo… um pouco estranho sobre esse aspirante a teólogo de óculos. Quando o Sr. Reed sai da sala, desaparecendo por um corredor escuro e sinuoso, Barnes e Paxton decidem que seria um bom momento para fazer irem embora. Exceto que… elas não podem. A porta da frente está trancada. Por mais que tentem, não conseguem abri-la. Enquanto uma tempestade de neve se aproxima, as jovens percebem que a única saída é pela casa. E pelo Sr. Reed.

            O Sr. Reed está convencido de que descobriu, como ele descreve, a “única e verdadeira religião”. Ele quer que a Irmã Barnes e a Irmã Paxton testemunhem o que ele viu, acreditem no que ele acredita. Ele planeja provar a elas que está certo, por quaisquer meios horríveis que sejam necessários.

            Apesar de um deslize em sua segunda metade e de, às vezes, parecer desequilibrado, este é um filme raro, que combina muito bem sangue esguichando com uma discussão elevada. De maneira envolvente, realiza de muitas maneiras, o que se propõe. A direção, a cinematografia e o som são precisos e enervantes. A escrita é afiada. E a atuação é impressionante. Hugh Grant, ainda que leve para o personagem do Sr. Reed, alguns trejeitos que o deixaram conhecido por seus papeis em comédias românticas, consegue passar personalidade própria para seu vilão nada convencional.

            O filme apresenta debates filosóficos que exploram as complexidades da crença com algumas perguntas difíceis que vale a pena considerar. Só não espere por respostas sérias. Como convém ao seu título, as afirmações teológicas do longa rapidamente se desviam para um território falho e sem fé.

            Em resumo, “Herege”, pode não agradar a todos os fãs de terror, devido a falta de sustos tradicionais que pode ser desanimador para alguns espectadores. Além disso, os debates filosóficos e as ideias complexas podem ser difíceis de seguir, especialmente em uma primeira visualização. Contudo, ao usar a crença como base para seu terror e ao subverter alguns clichês, torna-se uma experiência recompensadora e perturbadora para aqueles dispostos a se envolver com seu terror intelectual.

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