Longa narra a luta de comunidades na Zona Oeste por melhores condições de moradia
O documentário INTERVENÇÃO, de Gustavo Ribeiro, ganhou os críticos na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e encerrou o festival com o prêmio ABRACCINE de Melhor Filme Brasileiro da Competição Novos Diretores. A produção narra a luta pela urbanização e por melhores condições para os moradores das Comunidades do Nove, da Linha e do Cingapura Madeirite, localizadas na Vila Leopoldina, região nobre de São Paulo.
“Ganhar o prêmio da ABRACCINE na Mostra é um grande reconhecimento para o filme e para a luta da comunidade do Ceasa. A população da Favela da Linha, Favela do Nove e do Cingapura Madeirite ficou feliz com o resultado”, contou Ribeiro, que planeja agora uma sessão especial do filme para a comunidade. “Uma das melhores mensagens que eu recebi veio do Iverson Natan, que é da Favela do Nove, estudante de Letras na Unesp e faz as locuções do filme: ‘Já viu a favela entrar em disputa e perder? Nós só jogamos para ganhar. É nosso, INTERVENÇÃO’”
Embora o festival tenha chegado ao fim, INTERVENÇÃO terá ainda mais uma exibição, graças à tradicional repescagem. Quem ainda não assistiu ao filme terá uma nova chance neste sábado (2), às 15h, no CineSesc.
Filmado ao longo de quatro anos em São Paulo, INTERVENÇÃO aborda o dia-a-dia dos moradores de uma comunidade, formada por duas favelas e um conjunto habitacional na Zona Oeste da capital paulista, uma região que luta para ser urbanizada, enquanto enfrenta a resistência dos vizinhos dos condomínios de luxo.
“Havia um desejo dos moradores de mostrar o processo do PIU, o Plano de Intervenção Urbana, e a situação das suas moradias. Muitos moradores fizeram questão de abrir as casas para nós”, conta o diretor. Além dos depoimentos dos moradores, o longa acompanha ainda reuniões da comunidade e assembleias públicas, apontando a tensão entre a favela e a região mais valorizada ao seu redor.
“A ideia inicial era ouvir mais moradores dos prédios, de fora da comunidade, que são contra o PIU. Porém, houve uma resistência muito grande por parte deles. A única pessoa que topou foi a moça que está no documentário, Adriana Fonseca , que é a favor do PIU e quis dar seu depoimento”, explica Ribeiro. “Então em um dado momento eu desisti de entrevistar esse pessoal e mergulhar de cabeça nos moradores da comunidade, inclusive porque alguns deles também são contra o PIU.”
Montado durante nove meses, o longa foi finalizado enquanto o andamento do PIU se desdobrava. Ribeiro aponta que, por isso, capturou momentos muito representativos da realidade da comunidade.
“O primeiro foi a enchente, em que a favela ficou toda alagada. As pessoas perderam tudo, móveis, roupas, eletrodomésticos, comida, documentos. Ali, a precariedade das moradias e o descaso do poder público e da sociedade foram escancaradas, porque não era a primeira vez que a comunidade era alagada”, lembra. “Outro momento foi a pandemia, porque em geral as casas na comunidade são muito pequenas, com muitos moradores, e a rua é uma extensão das casas. Na favela o delivery não chega, não havia a possibilidade de isolamento nem quarentena.”
INTERVENÇÃO é uma produção da Primo Filmes e do Instituto Galo da Manhã.
Sinopse:
Filmado ao longo de quatro anos, INTERVENÇÃO acompanha o cotidiano dos moradores de uma comunidade, formada por duas favelas e um conjunto habitacional na zona oeste de São Paulo, que luta para ser urbanizada. Porém, essa urbanização gera resistência dos moradores da área mais valorizada do bairro, num movimento conhecido como “Not In My Backyard”.