O Dia da Posse (por Peter P. Douglas)

O DIA DA POSSE

            O Dia da Posse (2021), longa-metragem nacional dramático e documental, distribuído pela Embaúba Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 31 de outubro de 2024, com classificação indicativa 12 anos e 70 minutos de duração.

            Abordagem íntima e reflexiva sobre a realidade pandêmica e suas consequências no cotidiano. O enredo se desenrola em torno de Brendo Washington, um jovem baiano estudante de direito, cujos sonhos e reflexões são capturados pela câmera do diretor Allan Ribeiro de maneira quase documental. A narrativa flutua entre a encenação e a documentação, criando um espaço onde o espectador é convidado a passear entre a vida pré-pandemia, a vida durante a pandemia e a vida pós-pandemia.

            O filme explora o debate entre o interior e o exterior, o abstrato e o humano, e a busca por novos olhares dentro dos limites impostos pelo isolamento social. A câmera de Ribeiro busca constantemente escapar da realidade e da rotina, seja através das janelas do apartamento ou por meio do digital, filmando chamadas de vídeo e interações nas redes sociais. Este recurso, no entanto, encontra seus limites, levando a uma necessidade de reinvenção e improvisação que se reflete na própria estrutura do filme.

            A performance de Brendo Washington é central para a experiência do filme. Ele não é apenas o sujeito filmado, mas também coautor do roteiro, trazendo uma autenticidade e uma perspectiva pessoal que enriquecem a narrativa. O longa se estabelece como um estudo de personagem, onde a intimidade e a relação entre diretor e personagem ultrapassam a tela, oferecendo um olhar generoso e otimista para o futuro, apesar das circunstâncias desafiadoras da pandemia.

            No entanto, o filme pode ser criticado por sua abordagem que, em alguns momentos, parece indecisa entre o documentário e a ficção. A montagem antecipa os diálogos, revelando a onisciência da linguagem ficcional e, por vezes, confundindo o espectador sobre o que é real e o que é encenado. Além disso, a filmagem majoritariamente por meio de planos subjetivos reforça a ideia de um roteiro de relatos de vida, mas também pode limitar a perspectiva do espectador, mantendo-o muito próximo ao personagem principal, sem oferecer um contexto mais amplo.

            Em resumo, “O Dia da Posse”, utiliza o cinema como meio de explorar a complexidade das emoções e experiências vividas durante a pandemia. Allan Ribeiro e Brendo Washington criam um filme que é tanto um retrato íntimo quanto um comentário sobre a sociedade atual, capturando a essência de um momento histórico com sensibilidade. Ainda que possa deixar alguns desejando uma definição mais clara entre ficção e realidade, o longa consegue transmitir uma mensagem poderosa sobre resiliência e esperança.

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