Abraço de Mãe (A Mother’s Embrace, 2023), longa-metragem nacional de terror, produzido pela Lupa Filmes, estreia, oficialmente, no streaming Netflix, em 23 de outubro de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 90 minutos de duração.
Mergulha no gênero do terror psicológico e metafórico com uma narrativa que se desdobra em duas linhas temporais distintas. A trama segue Ana, interpretada por Marjorie Estiano, uma bombeira que retorna ao serviço após um período de afastamento devido a um ataque de pânico que sofreu durante uma missão. Em seu primeiro dia pós-retorno, sua equipe composta pelos bombeiros Dias (Val Perré), Mourão (Rafael Canedo) e Roque (Reynaldo Machado) recebe um chamado urgente para evacuar um asilo em risco de desabamento, antes que uma das enchentes devastadoras que ocorriam nessa época no Rio de Janeiro, varra o local. Porém, ao chegarem, descobrirão que os enigmáticos moradores do asilo têm outros planos, o que fará Ana confrontar seus próprios traumas para sobreviver.
A produção é habilmente dividida entre o passado, em 1973, onde uma jovem Ana enfrenta um evento traumático com sua mãe, e o presente, em 1996, onde ela é assombrada por essas memórias. Este paralelo temporal é uma escolha narrativa interessante que enriquece a profundidade psicológica da protagonista e mantém o público se questionando qual será a resolução dos mistérios do enredo. A atuação de Estiano é o ponto alto do filme, transmitindo emoções que sustentam a tensão e o suspense ao longo da trama.
No entanto, o filme possui alguns deslizes. A decisão de incluir o personagem Ulisses (Javier Drolas) que fala castelhano, e não adicionar legendas, pode confundir o público e distrair da imersão na história. Além disso, apesar de ser uma produção brasileira, o filme parece às vezes desconectado de sua ambientação, com poucos elementos que realmente situam a narrativa no Rio de Janeiro dos anos 90.
Visualmente o longa impressiona. A cinematografia captura a claustrofobia e o perigo do asilo abandonado onde grande parte da ação ocorre. A caracterização dos idosos e a escolha da locação contribuem para uma atmosfera autêntica de suspense. A direção de Ponce é competente, especialmente nas cenas que exigem uma tensão crescente e uma sensação real de medo.
O roteiro, coescrito por Gabriela Capello, André Pereira e o próprio Ponce, é eficaz em manter o público se questionando ao mesmo tempo que cria uma tensão psicológica convincente. No entanto, algumas escolhas narrativas podem trazer prejuízo para aqueles que buscam uma explicação real e não metafórica, sobre quem seriam e o que buscavam os moradores do asilo.
Em suma, “Abraço de Mãe” oferece uma experiência que é ao mesmo tempo familiar e nova, sendo a performance de Marjorie Estiano o pilar central que carrega o filme, mesmo quando o roteiro tropeça. Provavelmente dividirá opiniões, não pela sua qualidade que é inegável, mas sim pela ambiguidade de seu final.
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