Golpe de Sorte em Paris (por Peter P. Douglas)

(A sorte depende de aprender a ler os sinais)

            Golpe de Sorte em Paris (Coup de Chance, 2023), longa-metragem dramático, coprodução Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, distribuído pela O2 Play Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 19 de setembro de 2024, com classificação indicativa 12 anos e 93 minutos de duração.

            O mais recente filme de Woody Allen, é uma obra que se equilibra habilmente entre o charme e a previsibilidade. A narrativa segue Fanny, interpretada com uma mistura de vulnerabilidade e determinação por Lou de Laâge, cuja vida aparentemente perfeita começa a desmoronar após um encontro casual com um antigo colega de classe, Alain, vivido por Niels Schneider. O enredo se desenrola em Paris, um cenário que Allen explora com uma familiaridade que tanto conforta quanto cansa. A cinematografia, embora impecável, não oferece novidades, mantendo-se fiel à estética polida que se espera de um filme de Allen ambientado na cidade luz.

            O roteiro, embora repleto de diálogos inteligentes e momentos de humor afiado, não se desvia muito do que já vimos em trabalhos anteriores do diretor. A trilha sonora jazzística, no entanto, é um ponto alto, conferindo ao filme um ritmo nostálgico. A atuação de Melvil Poupaud como Jean, o marido de Fanny, é competente, mas não excepcional, falhando em trazer uma nova dimensão ao arquétipo do marido traído.

            O filme brinca com o conceito de acaso e como ele molda nossas vidas, um tema recorrente na filmografia de Allen. No entanto, essa exploração não se aprofunda tanto quanto poderia, deixando o espectador com a sensação de que há uma oportunidade perdida para uma reflexão mais significativa. A conclusão do filme é abrupta e talvez excessivamente arrumada, o que pode deixar alguns espectadores insatisfeitos com a falta de complexidade ou consequências reais para os personagens.

            Apesar dessas críticas, o longa possui um charme indiscutível. A direção de Allen em francês mostra-se surpreendentemente eficaz, e o elenco, embora não seja explorado ao máximo, entrega performances que são, em sua maioria, encantadoras. O filme é, em muitos aspectos, um reflexo da carreira de Allen: uma coleção de temas e estilos familiares que são apresentados com suficiente competência para entreter, mas sem o brilho de inovação que poderia ter elevado a obra a um novo patamar.

            Em resumo, “Golpe de Sorte em Paris” é um filme que, embora não seja uma reinvenção ou um marco na carreira de Allen, oferece uma experiência cinematográfica agradável. É uma adição segura, mas um tanto esquecível, ao seu extenso repertório. Para os fãs de longa data de Allen, o filme será um conforto familiar; para os novos espectadores, pode servir como uma introdução adequada, embora não particularmente brilhante, ao seu trabalho.

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