Premiada escritora e doutora em Literatura, Mila Mello apresenta uma São Paulo oitocentista em romance de época que retrata as condições femininas no século XIX
Clarice sempre viveu à sombra da irmã mais velha. Mas a jovem vê a própria vida mudar drasticamente quando a primogênita, Amélia, foge com um namorado desaprovado pelo patriarca, levando com ela a honra da família. Para evitar a desgraça social, o pai de Clarice decide casá-la com Nuno, o filho libertino de uma linhagem familiar tradicional e de renome, porém falida. O problema é que a última coisa que a protagonista do livro 1878 – A História de Clarice gostaria de fazer é se casar. Ainda mais com um homem que ela não conhece e por quem não está apaixonada.
Ambientado no fim do século XIX, com uma riqueza de detalhes da cultura brasileira da época, este premiado romance, escrito pela mestre e doutora em Literatura, Mila Mello, transporta o leitor para uma São Paulo oitocentista dos barões do café, um período de opulência e rápidas mudanças sociais e econômicas. Neste cenário, mesmo não seguindo à risca os padrões convencionais impostos pela sociedade, Clarice é obrigada a concordar com as vontades do pai, Luiz Altamir: um respeitado comerciante cafeeiro e o primeiro e mais rico investidor do Banco Comercial do Rio de Janeiro.
Clarice sentia que estava literalmente sendo vendida. E tudo porque a irmã errara (ou disseram que errada) e não ela. Ela não havia feito nada que a pudessem julgar, mas teria que se casar aos dezessete anos com o filho desconhecido de um marquês falido. Com a sorte que vinha apresentando, o rapaz seria horrendo de alguma maneira.
(1878 – A História de Clarice, p.13)
Por outro lado, Nuno, caçula do Marquês de Valença, também não é um entusiasta do matrimônio e não quer perder a própria liberdade a limitar-se a uma única mulher. Sem ter muitas opções, o rapaz aceita o acordo e o grande dote que vem com ele, afinal, – após a morte do irmão –, cabe ao jovem a responsabilidade de pagar as dívidas de jogos feitas pelo pai, a fim de recuperar as economias da família. Longe de ter expectativas amorosas, o que os protagonistas não esperavam é que o primeiro encontro despertasse uma atração irresistível entre eles: é possível o amor florescer em meio a uma relação de conveniência?
Em 1878 – A História de Clarice, Mila Mello detalha a vida e os costumes da burguesia cafeeira paulistana, desde os grandes bailes e festas e até os acordos financeiros que determinavam os casamentos arranjados em benefício da elite. Mais do que um romance, a escritora também escancara o machismo estrutural e as dificuldades que as mulheres enfrentavam ao ter que seguir as normas ditadas pelo patriarcado. A obra, que também foi traduzida e publicada no inglês, recebeu o prêmio de Melhor Livro de Época e de Autor Revelação em 2023 pela Revista World Book Review, e foi escolhida para fazer parte do setor cultural do consulado brasileiro em Bucareste, Hungria.
Sobre a autora: Mila Mello é licenciada em Letras pela Universidade Federal de São Carlos, com Mestrado e Doutorado em Estudos Literários pela Unesp/Universidade de Coimbra. Desde muito pequena, seu passatempo preferido era ler. Ela devorava todos os livros que apareciam em casa e na biblioteca da escola. O amor pela escrita veio mais tarde, na adolescência, quando descobriu os diários. Por essa razão, a escolha da profissão não poderia ser outra que não transmitir o prazer pela leitura e estimular o amor à escrita.
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