Bandida – A Número 1 (por Kell C. Pedro)

            Bandida – A Número 1 (2023), longa-metragem brasileiro dramático de ação, distribuído pela Paris Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, no dia 20 de junho de 2024, com classificação indicativa 18 anos e 80 minutos de duração.

            Se destaca no cenário cinematográfico brasileiro atual, não apenas pela sua narrativa crua e envolvente, mas também pela forma como retrata a complexidade das dinâmicas sociais dentro de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, a Rocinha. Dirigido por João Wainer, conhecido por seu trabalho em clipes musicais e por documentários que exploram as facetas menos vistas da sociedade brasileira, o filme mergulha na história de Rebeca, interpretada com maestria por Maria Bomani, uma mulher que se vê obrigada a navegar pelas águas turbulentas do crime organizado após ser vendida pela avó na infância.

            O roteiro, escrito pelo diretor em colaboração com Patrícia Andrade, Cesar Gananian e Thais Nunes, é baseado na autobiografia “A Número Um” de Raquel de Oliveira. A narrativa é dividida em cinco atos (Novela das 8, Amoroso, Deslizes, O Amor e o Poder, A Número 1), cada um explorando diferentes fases da vida de Rebeca, desde sua infância até sua ascensão como líder do tráfico na Rocinha. A estrutura do roteiro é inovadora e desafiadora, pois opta por uma abordagem não linear que exige atenção do espectador para juntar as peças do complexo quebra-cabeça que é a vida da protagonista.

            A atuação de Bomani é intensa e visceral, transmitindo a força e a vulnerabilidade de Rebeca com uma autenticidade que raramente se vê em filmes do gênero. Jean Luis Amorim entrega uma performance convincente como Pará, o amor proibido de Rebeca, cuja química com Bomani é essencial para o desenvolvimento da trama. Milhem Cortaz, como o bicheiro Seu Amoroso, oferece uma representação multifacetada de um homem que é ao mesmo tempo temido e respeitado.

            Visualmente, é como se o público estivesse imerso na época e na localidade. A direção de fotografia de Miguel Vassy captura a beleza e a brutalidade da Rocinha com uma paleta de cores que varia de tons vibrantes a sombrios, refletindo as mudanças de poder dentro da comunidade. A montagem de Cesar Gananian é ágil e mantém o ritmo acelerado do filme, enquanto a trilha sonora de Tejo Damasceno complementa perfeitamente a atmosfera tensa e imprevisível.

            Em suma, “Bandida – A Número 1″ é um filme corajoso que não teme confrontar o espectador com a realidade brutal de seu cenário. É uma história de amor, uma obra que desafia, que provoca reflexão com performances fortes, uma direção segura e uma narrativa envolvente. É um filme que merece ser visto e discutido, não apenas como entretenimento, mas como um espelho da sociedade em que vivemos.

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