A Ordem do Tempo (por Casal Doug Kelly)

            A Ordem do Tempo (Lordine Del Tempo, 2023), longa-metragem italiano dramático, distribuído pela Pandora Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, no dia 13 de junho de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 113 minutos de duração.

            Dirigido pela veterana cineasta, de 91 anos, Liliana Cavani, é uma obra que desafia o espectador a refletir sobre a efemeridade da existência e a complexidade das relações humanas. O filme, que estreou no Festival do Rio de 2023, segue um grupo de amigos que se reúne anualmente para celebrar um aniversário em uma pitoresca vila à beira-mar. Este ano, contudo, a reunião é marcada por uma revelação chocante: o mundo está prestes a acabar. A premissa pode parecer clichê, mas Cavani a manipula com maestria, transformando-a em um palco para a exploração de emoções profundas e questões existenciais.

            A narrativa se desenrola com um ritmo misto na situação dos personagens, alternando entre momentos de aceleração e pausas contemplativas. A direção de Cavani é sensível e intencional, capturando a intensidade emocional do grupo com uma câmera que parece dançar entre os personagens, ora se aproximando para capturar um olhar ou um sussurro, ora se afastando para absorver a coletividade da experiência. A direção de fotografia é um personagem em si, refletindo uma iluminação que realça a beleza melancólica do cenário.

            O elenco, liderado por Alessandro Gassman e Claudia Gerini, entrega atuações que são ao mesmo tempo sutis e poderosas. Gassman, como Pietro, é o pilar emocional do grupo, enquanto Gerini, interpretando Elsa, oferece uma performance que é uma mistura de força e vulnerabilidade. Ángela Molina e Edoardo Leo completam o elenco principal com personagens que trazem suas próprias complexidades e contribuições para a dinâmica do grupo.

            O roteiro, coescrito por Cavani e Paolo Costella, é um dos pontos altos do filme. Ele não apenas constrói personagens tridimensionais com diálogos críveis e tocantes, mas também tece uma meditação sobre o tempo que é tanto filosófica quanto acessível. A influência do livro homônimo de Carlo Rovelli é evidente, especialmente na maneira como o filme aborda a relatividade do tempo e como ele é percebido em momentos de crise.

            A trilha sonora complementa a narrativa de forma sublime, com composições que amplificam a tensão e a emoção das cenas. Em um momento particularmente memorável, uma música inicia e todos os personagens, exceto a empregada, começam a dançar, numa cena que é ao mesmo tempo alegre e trágica, destacando as divisões sociais que persistem mesmo diante do fim iminente.

            Em suma, “A Ordem do Tempo” é um filme que fica com o espectador muito tempo após os créditos finais. Ele questiona o que valorizamos e por que, e como passamos o tempo que nos é dado. Cavani oferece uma visão que é tanto uma celebração da vida quanto um reconhecimento de sua fragilidade. Em um mundo cinematográfico frequentemente saturado de efeitos especiais e tramas superficiais, este filme se destaca como um lembrete do poder do cinema de provocar reflexão e emoção profundas. É uma obra que merece ser vista e revista, discutida e digerida, e que certamente marcará a filmografia de Cavani como um de seus trabalhos mais significativos.

Compartilhe