A Semente do Mal (por Kell C. Pedro)

            A Semente do Mal (Amelia´s Children, 2023), longa-metragem português de terror, distribuído pela Imagem Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, no dia 13 de junho de 2024, com classificação indicativa 16 anos e 90 minutos de duração.

            Dirigido por Gabriel Abrantes, o filme marca a estreia do diretor no terror após anos trabalhando e sendo bem-sucedido no gênero da comédia (prova disso, é o sucesso de “Diamantino”, 2018).

            A narrativa se desenrola como um alerta sobre os efeitos inesperados de se descobrir a própria genealogia. A história é impulsionada por Edward, um nova-iorquino charmoso e culto, interpretado por Carloto Cotta, que decide fazer um teste de DNA a pedido de sua namorada, a encantadora enfermeira Ryley (Brigette Lundy-Paine). Ryley quer ajudar Edward a buscar respostas sobre suas origens, visto que este foi abandonado ao nascer.

            Um prólogo enigmático já havia revelado ao público um segredo que ambos desconhecem: Edward não foi abandonado, mas sim sequestrado de sua mãe portuguesa e, de alguma forma, inserido no sistema de adoção dos EUA. Quando o teste de DNA revela um irmão gêmeo desconhecido, Edward e Ryley voam para Lisboa para encontrar sua família biológica. Pesadelos sinistros sugerem que sua jornada a Portugal será tudo, menos alegre.

            Ao chegar à propriedade rural e decadente de sua mãe, Edward reencontra seu irmão gêmeo desalinhado, Manuel (também interpretado por Cotta), e a situação se torna bizarra. A mãe de Edward, Amélia, interpretada por Anabela Moreira sob pesadas próteses, exibe um narcisismo preocupante. Sua obsessão pela juventude vai além da cirurgia plástica, e logo Edward e Ryley descobrem o motivo.

            O filme, dirigido por Abrantes, se concentra mais nas excentricidades de Amélia do que na história subjacente. À medida que o mistério se desenrola, Edward é atraído pela promessa de uma nova família e uma conexão psíquica com seu irmão, enquanto Ryley assume uma postura cética e se torna a protagonista na busca pelos segredos de Amélia.

            Cotta, com seu talento e simetria, tem pouco espaço para explorar seus personagens, enquanto Lundy-Paine brilha ao equilibrar curiosidade e medo. Uma cena particularmente eficaz mostra Ryley usando o Google Translate para interrogar uma local, destacando o papel dos smartphones no terror moderno.

            A direção de fotografia realizada por Vasco Viana é condizente, mantendo-se fiel à estética visual rica que é característica do cinema português, especialmente na captura de cenas em ambientes escuros, um elemento crucial para o gênero de terror.

            Um dos pontos fracos do longa é o roteiro de Abrantes que falha em definir claramente sobre a aura sobrenatural que pretende aplicar, optando por transformá-la em uma história de bruxas. Além disso, algumas cenas não assustam e essa falta de terror genuíno combinado com a ausência de ousadia na produção são falhas significativas que impedem o filme de alcançar seu potencial completo.

            Em resumo, “A Semente do Mal” é um filme que, apesar de suas qualidades visuais e tentativas de inovação no gênero, parece não cumprir as expectativas de um filme de terror envolvente. A narrativa confusa e a execução falha de elementos-chave do terror, sugerem que uma maior familiaridade de Abrantes com o gênero poderia ter beneficiado a obra. No entanto, para aqueles interessados em uma experiência que desafia convenções e explora o grotesco, pode valer a pena assistir.

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