A Filha do Pescador (por Peter P. Douglas)

            A Filha do Pescador (La Estrategia Del Mero, 2023), longa-metragem dramático, coprodução Brasil, Porto Rico e Colômbia, distribuído pela Bretz Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas nacionais, no dia 18 de julho de 2024, com classificação indicativa 14 anos e 80 minutos de duração.

            Dirigido pelo cineasta colombiano Edgar De Luque Jácome, em seu debut como diretor de longas-metragens, apresenta uma história que se desenrola com o mar como testemunha silenciosa dos conflitos familiares e sociais. A trama gira em torno de Samuel, interpretado por Roamir Pineda, um pescador que vive isolado em sua rotina até ser confrontado pelo retorno de Priscila, sua filha trans interpretada pela talentosa Nathalia Rincón, que traz à tona questões de aceitação, perdão e preconceito.

            O roteiro habilmente entrelaça a jornada pessoal de Samuel com a luta de Priscila, criando um diálogo entre as gerações e as identidades de gênero. A narrativa é reforçada por uma paisagem deslumbrante que serve como uma metáfora visual para os desafios enfrentados pelos personagens. O filme aborda temas como machismo, assédio e a busca por um oásis de conforto em um ambiente que frequentemente apresenta mais pedras do que suporte. A direção de Jácome é sensível e objetiva, permitindo que a história flua naturalmente sem se perder em melodramas desnecessários.

            A fotografia é outro ponto forte do filme, capturando a beleza crua da costa e a vida árdua dos pescadores. A trilha sonora complementa a narrativa, com composições que ressoam o estado emocional dos personagens e a imensidão do mar. Nas atuações, Rincón e Pineda entregam performances que são ao mesmo tempo poderosas e contidas, refletindo a complexidade de seus personagens com nuances e profundidade.

            O filme não se esquiva de mostrar a realidade enfrentada pela maioria das pessoas trans, especialmente em comunidades marginalizadas, mas também oferece um vislumbre de reconciliação e entendimento. O longa desafia o espectador a confrontar seus próprios preconceitos e a considerar a possibilidade de mudança. A narrativa eficiente e os momentos de reflexão permitem que o público se envolva com os personagens e suas lutas, tornando a experiência tanto educativa quanto emocionante.

            Em suma, “A Filha do Pescador” é uma adição valiosa ao cinema latino-americano, merecendo reconhecimento por sua abordagem honesta e respeitosa de temas delicados, tendo a capacidade de contar uma história que é tanto particular quanto universal, com execução técnica proveitosa.

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