Corra! (por Peter P. Douglas)

(Não adianta correr ou será que adianta?)

            Corra! (Get Out, 2017), longa-metragem estadunidense de terror, distribuído pela Universal Pictures, com classificação indicativa 16 anos e 100 minutos de duração.

            Dirigido por Jordan Peele, é uma obra cinematográfica que transcende o gênero do terror psicológico para se estabelecer como um comentário social agudo e pertinente sobre o racismo. O filme segue Chris Washington (interpretado por Daniel Kaluuya), um fotógrafo afro-americano que, ao visitar a família de sua namorada branca, descobre uma realidade sinistra por trás da aparente normalidade suburbana. Peele habilmente usa o suspense e o horror para desvendar as camadas de uma sociedade que se vangloria de sua superficial inclusão racial enquanto esconde preconceitos profundos e sistêmicos.

            A narrativa é construída com uma precisão que mantém o espectador em constante tensão. A cinematografia, a edição e a trilha sonora colaboram para criar uma atmosfera de desconforto que reflete o estado psicológico do protagonista. Peele, que também escreveu o roteiro, apresenta diálogos carregados de duplos sentidos e situações que, inicialmente triviais, revelam-se carregadas de significado racial. O uso de simbolismos, como a “zona do sol”, onde Chris é hipnotizado, oferece uma poderosa metáfora para a opressão e a alienação vivenciadas pelos afro-americanos.

            O elenco de apoio, incluindo Allison Williams como Rose, a namorada de Chris, Catherine Keener e Bradley Whitford como seus pais, entrega atuações que oscilam entre o acolhimento e a ameaça, contribuindo para a crescente sensação de paranoia. Kaluuya, em particular, oferece uma performance admirável, transmitindo uma vulnerabilidade e inteligência que tornam seu personagem imediatamente simpático e identificável.

            O filme também se destaca por sua crítica ao liberalismo branco, representado pela família Armitage, que se considera progressista e tolerante, mas cujas ações revelam intenções sinistras. O filme explora a ideia de que o racismo não se limita a atos de violência explícita, mas também se manifesta em microagressões. A tensão racial é amplificada pela presença de empregados negros na casa dos Armitage, cujo comportamento estranho sinaliza uma verdade mais sombria.

            A direção de Peele é firme e confiante, guiando o público através de uma série de reviravoltas que mantêm o suspense até o final surpreendente. Em suma, “Corra!” é um filme que não apenas entretém, mas também provoca reflexão, desafiando o público a confrontar as realidades do racismo contemporâneo. Com uma mistura de terror, humor e comentário social, é um filme que permanece relevante e ressonante, um testemunho do poder do cinema como veículo para a crítica social e a mudança.

Repostado em https://www.parsageeks.com.br/2024/07/critica-filme-corra.html

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