O Sequestro do Papa (por Peter P. Douglas)

(As religiões, por muitas vezes, causam os maiores conflitos da humanidade) 

           O Sequestro do Papa (Rapito, 2023), longa-metragem dramático italiano, francês e alemão distribuído pela Pandora Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas, a partir de 18 de julho de 2024, com classificação indicativa 12 anos e 130 minutos de duração.

            Destaca-se não apenas pela sua narrativa envolvente, mas também pela forma como aborda temas delicados por uma perspectiva histórica profunda. Dirigido por Marco Bellocchio, o filme mergulha no controverso episódio do rapto de Edgardo Mortara, um jovem judeu que, após um batismo secreto, é arrancado de sua família para ser criado como católico, desencadeando uma batalha política que coloca em cheque o poder do papado contra as forças de unificação italiana.

            A atuação de Enea Sala como o jovem Edgardo encanta, transmitindo com maestria a confusão e o conflito interno de uma criança arrancada de seu mundo conhecido. Leonardo Maltese, interpretando Edgardo mais velho, complementa essa jornada com uma performance que captura a complexidade de alguém criado entre duas identidades conflitantes. Paolo Pierobon, no papel do Papa Pio IX, entrega uma atuação carismática que humaniza uma figura frequentemente vista como autoritária e intransigente.

            A cinematografia do filme é uma verdadeira obra de arte, com uma reconstrução de época meticulosa que transporta o espectador para a Itália do século XIX. A paleta de cores, o design de produção e os figurinos trabalham em harmonia para criar uma atmosfera autêntica e imersiva. A trilha sonora, sutil e emocionante, complementa a narrativa sem jamais se sobrepor à história.

            Bellocchio faz uso de uma narrativa não linear, que, embora possa confundir inicialmente, revela-se uma escolha acertada ao desdobrar as camadas da história e dos personagens. O roteiro, coescrito por Bellocchio, Susanna Nicchiarelli e Edoardo Albinati, é rico em diálogos significativos e momentos de tensão bem construídos, que mantêm o espectador atento do início ao fim.

            Também se destaca por sua abordagem crítica às instituições religiosas e ao uso do poder eclesiástico para influenciar e controlar a sociedade. Através do drama pessoal de uma família, o filme levanta questões sobre fé, identidade e liberdade, convidando o público a refletir sobre o impacto das decisões tomadas por aqueles em posições de poder.

            Em termos de produção, o filme é uma colaboração internacional, com contribuições da Itália, França e Alemanha, o que se reflete na diversidade do elenco e na riqueza dos pontos de vista apresentados.

            Em resumo, “O Sequestro do Papa” é um filme que desafia e cativa, um feito impressionante de storytelling que combina performances poderosas, uma direção segura e uma mensagem que ressoa muito além dos limites da tela. É uma adição valiosa ao cinema histórico e uma peça essencial para quem busca entender as complexidades das relações entre religião e política.

Repostado em https://www.parsageeks.com.br/2024/07/critica-cinema-o-sequestro-do-papa.html

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