Novo filme de João Salaviza e Renée Nader Messora registra a resistência do povo Krahô
Exibido em mais de 50 festivais ao redor do mundo e vencedor de oito prêmios, entre eles o prêmio coletivo para melhor elenco na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, A FLOR DO BURITI, de João Salaviza e Renée Nader Messora chega aos cinemas brasileiros em 04 de julho, com distribuição da Embaúba Filmes.
O filme aborda questões urgentes e contemporâneas ao dar protagonismo aos povos originários brasileiros, no caso, os krahô, que já estiveram no centro do trabalho anterior dos diretores, Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos. A obra tem sido aclamada pela crítica internacional e teve estreias comerciais de destaque em Portugal, França e Argentina, além de contar com distribuição em salas de cinema já confirmadas no Uruguai, Espanha, Suíça, Áustria e Itália.
A FLOR DO BURITI nasce do desejo dos diretores em pensar a relação dos krahô com a terra e em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos. As complexas relações entre aldeias e comunidades envolventes, as memórias que são construídas coletivamente, os sonhos e as presenças do invisível compõem a argamassa que servirá de pretexto para que essa história possa emergir.
“As diferentes violências sofridas pelos krahô nos últimos 100 anos também alavancaram um movimento de cuidado e reivindicação da terra como bem maior, condição primeira para que a comunidade possa viver dignamente e no exercício pleno de sua cultura”, explicam os diretores, que assinam o roteiro com Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Ihjãc Henrique Krahô.
Em 1940, os dois maiores fazendeiros da região decidiram acabar com os Krahô, com o pretexto de que os indígenas eram ladrões e estavam roubando o gado. A violência do massacre, com mais de 80 pessoas mortas, fez com que a notícia chegasse até o conhecimento do então presidente Getúlio Vargas, que rapidamente definiu junto ao governador do estado de Goiás, doar uma porção de terra aos Krahô. Por conta do massacre, os Krahô tiveram sua terra prontamente demarcada, podendo inclusive determinar tais limites.
O relato principal sobre o massacre foi coletado por um antropólogo por volta de 2009, e foi contado por um dos sobreviventes – que naquele momento tinha quase 90 anos, mas uma memória impecável. Por casualidade, a pessoa que acompanhou esse antropólogo foi precisamente o Hyjnõ, protagonista de A FLOR DO BURITI, que conta essa história aos mais jovens numa das sequências do filme. Hyjnõ, que já despontava como jovem liderança, era parente desse sobrevivente e foi o tradutor daquela história violentíssima.
Os diretores estabeleceram um jogo entre o relato e a imagem, na qual há, por vários momentos, uma defasagem entre o contado e o visto. “É uma tentativa de dar conta desse caráter impreciso da memória, do fato da memória ser aqui uma construção compartilhada por determinado grupo humano que irá “atestar” sua veracidade. Mas ela vive sempre à beira do abismo, esperando que alguém apareça para contestá-la ou para dizer que não foi bem assim. Esse lugar da imprecisão é o que mais nos interessa, porque é precisamente onde se abrem as brechas que permitem que nós, como realizadores, possamos imaginar, especular e trabalhar a ficção.”
Além do Festival de Cannes, o filme foi premiado em importantes festivais como Munique (Cinevision Award), Lima (Prêmio Signis), Mar del Plata (Prêmio Apima Melhor filme Latino-Americano), Festival dei Popoli (Melhor Filme), Huelva (Prêmio Especial do Júri e Prêmio Melhor Filme Casa Iberoamérica), RIDM Montreal (Prêmio Especial do Júri), Biarritz, Viennale, e forumdoc.BH.
A FLOR DO BURITI é distribuído no Brasil pela Embaúba Filmes.
Sinopse
Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um violento massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, durante a Ditadura Militar, o Estado Brasileiro incita muitos dos sobreviventes a integrarem uma unidade militar. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô seguem caminhando sobre sua terra sangrada, reinventando diariamente as infinitas formas de resistência.
Ficha Técnica
Direção: João Salaviza, Renée Nader Messora
Roteiro: João Salaviza, Renée Nader Messora, Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô, Henrique Ihjãc Krahô
Produção: Ricardo Alves Jr., Julia Alves
Elenco: Ilda Patpro Krahô, Francisco Hyjnõ Krahô
Direção de Fotografia: Renée Nader Messora
Direção de Arte: Ángeles Frinchaboy, Ilda Patpro Krahô
Direção de Produção: Isabella Nader Messora
Som Direto: Diogo Goltara
Desenho de Som: Pablo Lamar
Montagem: Edgar Feldman
Gênero: Drama
País: Brasil, Portugal
Ano: 2023
Duração: 124 min
Sobre JOÃO SALAVIZA
João Salaviza (1984) estudou Cinema na Lisbon Theatre and Film School e na Universidad del Cine em Buenos Aires. O seu primeiro curta-metragem ARENA foi premiada com a Palma de Ouro em Cannes (2009), seguindo-se o Urso de Ouro de Curtas-Metragens na Berlinale para RAFA (2012). Lançou também na Competição Oficial da Berlinale as curtas ALTAS CIDADES DE OSSADA (2017) e RUSSA (2018). O seu primeiro longa-metragem, MONTANHA, teve a sua estreia mundial no Festival de Veneza (Semana da Crítica) em 2015. Desde então, vive entre Portugal e o Brasil, junto do povo indígena Krahô. Em 2018 estreou CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, correalizado com Renée Nader Messora, no Festival de Cannes, recebendo o Prémio Especial do Júri – Un Certain Regard. O filme foi lançado comercialmente em vários países, destacando-se França onde foi visto por 45.000 espectadores. Em 2023 regressa ao Festival de Cannes – Un Certain Regard para estrear A FLOR DO BURITI (correalizado com Renée Nader Messora), filmado durante um período de quinze meses na Terra Indígena Krahô.
Sobre RENÉE NADER MESSORA
Graduada em Cinematografia pela Universidad del Cine, em Buenos Aires. Por 15 anos, trabalhou como assistente de direção em diversos projetos no Brasil, Argentina e Portugal, entre eles MONTANHA, primeiro longa-metragem de João Salaviza. Fotografou o curta-metragem POHÍ, através do qual conhece o povo Krahô. Desde então, trabalha com a comunidade, contribuindo na organização de um coletivo de jovens cinegrafistas que utilizam o cinema como ferramenta para o fortalecimento da identidade cultural e a autodeterminação da comunidade. Em 2017 fotografou o curta-metragem RUSSA, dirigido por Ricardo Alves Junior e João Salaviza e que estreou na Competição Oficial da Berlinale 2018. Também em 2018 estreou sua primeira longa-metragem, CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, correalizado com João Salaviza, no Festival de Cannes, recebendo o Prêmio Especial do Júri – Un Certain Regard. O filme foi lançado comercialmente em vários países, destacando-se França onde foi visto por 45.000 espectadores. A FLOR DO BURITI é o seu segundo longa-metragem, correalizado com João Salaviza e filmado durante um período de quinze meses na Terra Indígena Krahô.
Sobre a Embaúba Filmes
A Embaúba é uma distribuidora especializada em cinema brasileiro, criada em 2018 e sediada em Belo Horizonte. Seu objetivo é contribuir para a maior circulação de filmes autorais brasileiros. Ela busca se diferenciar pela qualidade de seu catálogo, que já conta com mais de 50 títulos, investindo em obras de grande relevância cultural e política. A empresa atua também com a exibição de filmes pela internet, por meio da plataforma Embaúba Play, que exibe não apenas seus próprios lançamentos, como também obras de outras distribuidoras e contratadas diretamente com produtores, contando hoje com mais de 500 títulos em seu acervo, dentre curtas, médias e longas-metragens do cinema brasileiro contemporâneo.