
Invasão Zumbi (Train To Busan, 2016), longa-metragem sul-coreano de terror dramático, com classificação indicativa 14 anos e 118 minutos de duração.
Muitas vezes, as pessoas deixam de assistir a filmes estrangeiros, alegando dificuldades com o idioma ou falta de conexão com a cultura retratada, o que pode afastá-las de verdadeiros tesouros cinematográficos. Como é o caso de “Invasão Zumbi”, que surpreende pela força de sua narrativa visual, transmitindo emoções profundas de luto, terror e suspense de forma tão eficaz que supera muitos dos grandes sucessos de bilheteria de Hollywood na atualidade.
Tenho uma extensa trajetória como fã de filmes de zumbi. Desde “A Morte do Demônio” (1981), passando por “Todo Mundo Quase Morto” (2004), “Rec” (2007), até alguns títulos que é melhor não mencionar devido as suas qualidades mais que duvidosas. Minha lista de favoritos é longa, mas “Invasão Zumbi” é tão excepcional que se destaca entre os melhores do gênero ao qual integra.
O filme narra a jornada de Seok Woo (Yoo Gong), um pai atarefado e divorciado, que se esforça para conciliar sua carreira agitada na Coreia do Sul com o relacionamento distante com sua filha pequena, Soo An (Kim Soo An). No dia do aniversário de Soo An, enquanto se preparam para uma viagem de trem de duas horas de Seul a Busan, a filha insiste em ir. Mal sabem eles que um surto zumbi irrompe na cidade. Ao embarcarem, um passageiro infectado a bordo espalha o vírus, forçando os demais a uma luta pela sobrevivência, unindo um time de beisebol do ensino médio e até mesmo senhoras idosas em uma longa e mortal jornada de trem.
O que considero um filme de zumbi verdadeiramente envolvente é a simplicidade do conflito, algo que o diretor/roteirista estreante Sang-ho Yeon compreende perfeitamente, ao contrário da escala massiva de “Guerra Mundial Z”, onde o protagonista viaja por vários países em busca de uma cura. “Invasão Zumbi” adota uma abordagem oposta, mantendo o cenário durante a maior parte do filme. Seus personagens se concentram em sobreviver, em vez de procurar uma cura, o que permite a Sang-ho Yeon incluir mais cenas de ação e suspense, evitando discussões banais sobre a cura do vírus.
Ao não se preocupar com a cura ou a origem da infecção, o filme é recheado de cenas de ação intensas, sem câmeras tremidas, e momentos angustiantes de suspense. A brutalidade da ação é visível. Sem armas de fogo para eliminar os zumbis rapidamente, os personagens recorrem a tacos de beisebol e fitas adesivas em volta dos braços, resultando em sangue, coagulação e, acima de tudo, uma luta crível. A coreografia da ação não é sofisticada, pois como os personagens são civis e não treinados para enfrentar zumbis, suas ações são desajeitadas, mas realistas, aumentando a tensão de que a sobrevivência no trem será um desafio.
Isso me leva ao suspense do filme, seu ponto forte. O suspense é constante e exaustivo, com alguns sustos imprevisíveis (não jump scares comuns). Lembro-me de estar constantemente tenso, questionando se os personagens principais conseguiriam passar pelo próximo vagão em segurança. Embora não seja um filme de terror em sua essência, a ansiedade que ele provoca no público supera a de muitos filmes de terror populares.
Falando em filmes de terror, muitos personagens frequentemente tomam decisões estúpidas, como o clichê “vamos nos separar”. No entanto, em “Invasão Zumbi”, essas decisões são tomadas por personagens sob extrema pressão. Olhando para trás, o filme não é tanto um filme de zumbi, mas sim um estudo sobre o comportamento humano sob pressão.
Minhas opiniões sobre cada personagem foram frequentemente moldadas por suas escolhas. Havia personagens dispostos a se sacrificar pelo bem maior, enquanto outros usavam egoisticamente as pessoas para sobreviver, o que realmente desequilibrava a balança sobre quem o espectador deveria torcer. No entanto, o que adoro neste filme é que todas essas decisões são justificadas. A pergunta subjacente do filme é, em grande parte: “O que você faria nessa situação?”.
Alguém poderia questionar por que os personagens precisariam se sacrificar em um surto zumbi, mas os zumbis neste filme não são como os de “The Walking Dead”. Eles lembram os zumbis velozes e espasmódicos encontrados em “Guerra Mundial Z” (2013) e “Extermínio” (2002). Os personagens são frequentemente perseguidos por hordas desses zumbis, que não hesitam em nada para alcançar a carne humana, saltando do chão ou agarrando-se à parte traseira do trem. Com veias proeminentes, olhos brancos e cobertos de sangue seco, os zumbis são, sem dúvida, alguns dos mais aterrorizantes do gênero.
No final das contas, “Invasão Zumbi” é um excelente filme de zumbi. Apesar de achar que algumas cenas se arrastaram um pouco na ação, a maior parte do filme manteve elementos de zumbis assustadores, suspense, personagens cativantes (ou detestáveis) e um enredo simplista que impediu que o filme se tornasse excessivamente complicado ou previsível. Gostei especialmente da escolha do diretor de incluir um toque de humor para quebrar a tensão, resultando em uma mistura perfeita de ação, terror e comédia, algo que os filmes de ação/terror de Hollywood parecem carecer atualmente.
O longa-metragem serve como um dos principais exemplos de porque devemos nos esforçar para ver filmes de outros países que executam a história e a visão do diretor muito melhor do que o método convencional de Hollywood.