Missão: Impossível – O Acerto Final (por Peter P. Douglas)

            Missão Impossível 8 – O Acerto Final (Mission Impossible – Dead Reckoning Part Two, 2025), longa-metragem de ação estadunidense, distribuído pela Paramount Pictures, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 22 de maio de 2025, com classificação indicativa 14 anos e 169 minutos de duração.

            Dirigido por Christopher McQuarrie, o filme por vezes se perde na complexidade de seu enredo antes de finalmente chegar ao embate entre Ethan Hunt (Tom Cruise) e o assassino renegado Gabriel (Esai Morales) pelo controle da poderosa IA conhecida como Entidade. Felizmente, este novo capítulo da franquia aproveita a densidade narrativa de seu antecessor e inicia sua trama com intensidade máxima.

            Nos primeiros 20 minutos do filme, o roteiro de McQuarrie e Erik Jendresen estabelece com precisão o domínio absoluto da Entidade sobre os sistemas computacionais globais, colocando a humanidade à beira de um conflito devastador. Esse cenário permite que o filme se transforme em uma exibição de sequências de ação espetaculares — majoritariamente práticas — e um sentimentalismo escancarado, refletindo o apego de Ethan à família improvisada de espiões que reuniu ao longo da franquia.

            É esse aspecto, aliás, que impulsiona grande parte da narrativa. Tanto a Entidade quanto Gabriel expõem como as ações de Ethan ao longo dos anos, na tentativa de proteger aqueles que ama, culminaram neste momento decisivo. Eles também revelam os métodos pelos quais pretendem manipulá-lo para desencadear um holocausto nuclear — um plano que a Entidade considera essencial para remodelar o mundo à sua própria imagem de eficiência e controle. Com essa base bem estabelecida, o longa rapidamente se lança na construção das sequências de ação mais grandiosas da franquia, elevando ainda mais seu já característico excesso.

            As principais cenas de ação, por mais bem executadas que sejam, às vezes parecem reminiscências de cenas de filmes anteriores da franquia. No entanto, McQuarrie realmente solta a imaginação com algumas demonstrações novas e vertiginosamente complexas da capacidade de Ethan de fazer qualquer coisa, não importa quão extravagante seja o cenário.

            A missão para recuperar o código-fonte da Entidade a partir de um submarino russo afundado começa de maneira caótica, exigindo um esforço complexo para localizar e acessar a embarcação. Cada movimento de Ethan dentro do submarino provoca deslocamentos inesperados, fazendo com que ele se mova perigosamente sobre o afloramento instável onde repousa. A constante mudança na orientação do cenário físico, somada ao aumento da desordem e da infiltração de água, transforma radicalmente seu trajeto — não apenas para avançar, mas, mais preocupante, para encontrar um caminho de volta.

            Quase como uma extensão das sequências de ação meticulosamente coreografadas, os diálogos explicativos ganham um ritmo dinâmico ao se entrelaçarem com as interações entre Ethan e sua equipe, revelando cada etapa do plano — por mais improvável e perfeitamente cronometrada que seja. Mais adiante, essa mesma abordagem se torna essencial para conectar as ações de diferentes grupos de personagens, com ataques simultâneos a Ethan e sua equipe sendo magistralmente interligados por cortes precisos entre combates corpo a corpo e intensos tiroteios.

            Em certos momentos, McQuarrie demonstra um talento sutil para a sugestão visual, como em uma cena de luta inicial que ocorre quase inteiramente fora do enquadramento. Enquanto Ethan usa instrumentos contra seus supostos torturadores, a brutalidade da sequência é transmitida apenas pelos efeitos sonoros cada vez mais intensos do impacto e pelas expressões de horror de Grace (Hayley Atwell), a ex-ladra que agora atua como agente do FMI (Força de Missão Impossível). Apesar de ter meia hora a mais que seu antecessor, mantém um ritmo ágil, fazendo com que sua duração pareça consideravelmente mais curta.

            O que mais chama atenção nessas cenas é como elas se aproximam de um aspecto pouco discutido nos filmes “Missão: Impossível”, o absurdo inerente à obsessão da franquia por desafios extremos. A sequência do submarino se desenrola como um fluxo ininterrupto de obstáculos — uma exibição eletrizante de um plano já intrincado sendo desmantelado a cada instante pela imprevisibilidade da embarcação em constante transformação e pelo caos que segue fechando todas as possíveis saídas para Ethan.

            Em certos momentos, uma perseguição aérea eletrizante entre biplanos flerta diretamente com o universo dos Looney Tunes, assim como a tensão de uma contagem regressiva para o desfecho é quebrada por uma piada visual breve e quase catártica. Como se buscassem equilibrar a superficialidade da construção de Gabriel, os cineastas posicionam o Ethan de Cruise como o Tom da dinâmica de Jerry com Morales, onde ambos se lançam em uma sucessão de confrontos tão absurdos que o riso se torna inevitável.

            Introduzir essa mudança de tom ousada no suposto desfecho de uma franquia de 30 anos é uma escolha surpreendente, ainda mais pelo fato de ser o filme mais abertamente sentimental da saga. Ao lidar com os dilemas morais expostos no título anterior — uma inteligência artificial fria e impecável drenando todo o significado do mundo — este capítulo contrapõe essa ameaça com os planos audaciosos e imprevisíveis de Ethan, bem como com seu profundo amor pelos que o cercam, elevando esses elementos como a forma definitiva de resistência à lógica implacável da Entidade.

            É justamente a disposição de Ethan em arriscar tudo para salvar um membro de sua família improvisada que lhe permite superar obstáculos impossíveis. Se Cruise, aos 62 anos, decidir continuar na franquia, como insinuou, isso seria um tributo apropriado à recusa do personagem em aceitar a futilidade de lutar contra um fracasso aparentemente inevitável.

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