
Terremoto em Lisboa (O Melhor dos Mundos, 2024), longa-metragem português dramático, distribuído pela Filmes do Estação, estreia, oficialmente, nos cinemas brasileiros, a partir do dia 29 de maio de 2025, com classificação indicativa 14 anos e 74 minutos de duração.
O cinema português, historicamente limitado por restrições orçamentárias, raramente se aventura em produções de grande escala, especialmente do gênero catástrofe. No entanto, a diretora e corroteirista portuguesa Rita Nunes encontra uma solução engenhosa para contornar essa limitação ao criar um filme pré-catástrofe, onde o foco não está na destruição iminente, mas sim nas circunstâncias que a precedem. Sua abordagem realista e científica, evita o sensacionalismo e explora um tema que, apesar de sua relevância, permanece um tabu na sociedade portuguesa.
Há décadas, cientistas alertam para a possibilidade de um grande terremoto atingir Lisboa, com uma magnitude semelhante ao que devastou a cidade em 1755. No entanto, a falta de medidas preventivas e a ausência de um debate público consistente sobre o tema tornam essa ameaça ainda mais preocupante. Diferente de países como Japão e Estados Unidos, onde a população convive com tremores frequentes, Portugal parece ignorar essa realidade, tratando o risco sísmico como algo distante.
Rita Nunes evita o caminho fácil do espetáculo visual e do pânico cinematográfico, ao optar por uma abordagem mais sóbria e fundamentada, que coloca a ciência no centro da narrativa. No entanto, não confronta a ciência com o negacionismo oficial, mas sim com suas próprias limitações — especialmente no que diz respeito à capacidade de prever um sismo e à confiabilidade dessas previsões. O verdadeiro conflito do filme surge da tensão entre os cientistas e as decisões políticas e sociais que precisam ser tomadas diante dessa incerteza.
Embora não tenha o fôlego de uma grande obra realizada para ser vista no cinema, sua estrutura narrativa é bem construída. O roteiro equilibra momentos de tensão com uma visão realista do futuro iminente, sem recorrer a exageros ou elementos fantasiosos. A ficção científica aqui não se apoia em especulações irreais, mas sim em um cenário plausível e possível.
Visualmente, o filme mantém uma estética discreta, sem grandes efeitos especiais ou sequências espetaculares. A direção de Nunes privilegia a ambientação e o desenvolvimento dos personagens, criando uma atmosfera de inquietação crescente.
Em um cenário onde o cinema de catástrofe costuma ser dominado por produções hollywoodianas repletas de efeitos visuais e dramatizações, muitas vezes, exageradas, “Terremoto em Lisboa” surge como uma alternativa inteligente e provocadora. É um filme que, com sua duração enxuta, entretém, e instiga reflexões sobre a fragilidade da sociedade diante de eventos naturais imprevisíveis.