Homem com H (por Jociane Miranda)

Jociane Miranda

“Tudo que está ali é verdade”, afirma Ney Matogrosso sobre filme de sua vida

O barulho da água correndo por entre a mata, os pés do garoto sentindo o frescor do riacho…  a riqueza de cores, formas e sons que imprime naquele ser as primeiras sensações de liberdade; cheiro de bicho, barulho de asas batendo e das folhas das árvores dançando ao vento.

Assim começa o filme que conta a história de vida de um dos maiores artistas brasileiros, Ney Matogrosso.  Reconhecido por sua fascinante voz aguda e extremamente afinada, intérprete de sucessos inesquecíveis e replicados por fãs das mais diversas origens, o cantor tem sua trajetória representada no longa dirigido habilmente por Esmir Filho, que também é responsável pelo roteiro.

Baseado em muita pesquisa e nos relatos do próprio Ney, a narrativa aborda a vida do artista desde sua infância em Bela Vista (MS), tempo em que viveu os primeiros conflitos familiares devido à convivência turbulenta com o pai militar, de rígidos padrões morais, encontrando um alívio na compreensão e carinho maternos. Dentro desse cenário, ele consegue minimizar os efeitos nocivos através do contato com a natureza, lugar onde se percebe, se identifica e se liberta, o que determina o rumo de sua história: Ney Matogrosso é livre e não tem medo de ser quem é.  Supera os conflitos e vai atrás de seus sonhos.

Ao deixar a casa dos pais e seguir sua vida, Ney vai descobrindo suas habilidades, como a capacidade de cantar com uma voz diferenciada. Passando pelo canto coral e indo de encontro ao primeiro grupo musical que fez parte, o “Secos e Molhados”, logo já imprimiu seu estilo performático, acompanhado de caracterizações exuberantes, que a princípio lhe rendeu críticas positivas e negativas, problemas com a censura e com os próprios componentes do grupo.

A partir desse momento, o artista assume a carreira solo e assim pode realizar seus projetos artísticos da forma que deseja.

Jesuíta Barbosa, o ator que interpreta Ney Matogrosso, o faz de maneira brilhante. Além da perfeita caracterização física, ele consegue transmitir a essência da personalidade de Ney Matogrosso: sua forma de se expressar, de andar, de interagir com os demais personagens, levando muitas vezes à sensação de que o próprio cantor estivesse presente no filme.

Como não poderia deixar de ser, as músicas cantadas por Ney ao longo de sua carreira são belamente utilizadas nas passagens de tempo da história e a forma como cada canção marca aspectos da sua vida pessoal faz toda a diferença na forma como os eventos são narrados: amores e paixões, altos e baixos, perdas e ganhos, tem suas imagens intercaladas com os grandes shows feitos ao longo de sua trajetória artística.

Destaque importante da história são as paixões de Ney por Cazuza, vivido por Jullio Andrade, e por Marco de Maria, vivido por Bruno Montaleone, que foram vítimas da AIDS na época, além de vários outros amigos.    Nesse contexto, uma das cenas mais belas do filme é o momento em que Ney e Cazuza, já em fase avançada da AIDS relembram juntos os sucessos musicais de Cazuza.

Sem fantasiar ou distorcer fatos, o filme merece ser visto pela importância de Ney Matogrosso no cenário musical brasileiro, e porque segundo ele mesmo disse, “tudo que está ali é verdade”.

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