CINEMATECA BRASILEIRA celebra os 100 anos de Rodolfo Nanni com a presença do diretor nas sessões de seus filmes, dias 26 e 27 de abril
A exibição dos longas O Retorno e Cordélia, Cordélia, será precedida respectivamente pelos curtas O Drama das Secas e São Paulo Centro, no sábado, dia 26
No domingo, Nanni participa de debate com Rubens Rewald e Tales Ab’Sáber, diretores do curta Sci Fi Saci, após a sessão de O Saci

Para celebrar o centenário de um dos grandes nomes do cinema brasileiro, a Cinemateca Brasileira apresenta a mostra 100 anos de Rodolfo Nanni. A programação reúne dois curtas e os três longas-metragens dirigidos por Nanni ao longo de sua carreira. Além disso, a curadoria oferece dois filmes da dupla Rewald & Ab’Sáber realizados em sua homenagem. A mostra acontece nos dias 26 e 27 de abril.
Influenciado por seu primo e padrinho, o escultor Victor Brecheret, Rodolfo Nanni inicialmente aspirava seguir carreira como pintor. Estudou em ateliês de importantes artistas, como Anita Malfatti, e prosseguiu sua formação na Europa. Em Paris, despertou seu interesse pelo cinema e se envolveu com grupos de discussão política. Frequentou o Institut des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC) e, nesse processo, passou a enxergar o cinema como “um poderoso instrumento para o desenvolvimento cultural e educacional”.
A repressão policial direcionada a estrangeiros que protestavam contra a Guerra do Vietnã, o força a deixar a França. De volta ao Brasil, é convidado a dirigir uma adaptação de O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. O Saci (1953), seu primeiro filme, é também a primeira adaptação cinematográfica da obra de Lobato e o primeiro longa-metragem brasileiro voltado ao público infantil. Mesmo nesse momento inicial, a maturidade da sua direção era evidente, especialmente na construção cuidadosa de um universo fantástico ancorado na vida cotidiana e rural.
Alguns anos depois, inspirado na obra seminal Geografia da fome, de Josué de Castro, Nanni voltou seu olhar para a dura realidade do Nordeste semiárido, dando origem ao curta-metragem O drama das secas (1958). Sobre as filmagens, ele recordaria mais tarde: “Nos sentíamos como correspondentes de guerra, em que o inimigo era a fome.” Cinquenta anos depois, o cineasta repetiria o trajeto registrado naquele filme, buscando compreender o que havia mudado e, sobretudo, o que ainda permanecia na vida dos camponeses da região. Dessa jornada nasceu o longa O retorno (2008).
Sua produção de curtas-metragens inclui diversos curtas sobre artes visuais e sobre a cidade de São Paulo, com destaque para a nova cópia 35mm produzida pelo Laboratório de Imagem e Som da Cinemateca Brasileira especialmente para essa mostra, São Paulo Centro (1975).
Rodolfo Nanni também se dedicou a associações da classe cinematográfica, nas políticas públicas e na docência, foi um dos professores fundadores do curso de cinema da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
É com satisfação que a Cinemateca Brasileira celebra esse grande legado difundindo a sua obra e exibindo o curta Sci Fi Saci (2025), de Rewald & A’bsaber — uma releitura contemporânea do clássico. A dupla assina também Um homem e um filme (2025), que será apresentado em exibição contínua no foyer Oscarito.
O diretor Rodolfo Nanni estará presente nas três sessões da mostra. Após a exibição de O Saci e Sci-Fi Saci, haverá um debate com a participação de Nanni, Rubens Rewald e Tales Ab’Sáber. A conversa será transmitida ao vivo pelo YouTube, com tradução simultânea em Libras.
A programação é gratuita e os ingressos são distribuídos uma hora antes das sessões.
CINEMATECA BRASILEIRA
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana
Horário de funcionamento
Espaços públicos: de segunda a segunda, das 08 às 18h
Salas de cinema: conforme a grade de programação.
Biblioteca: de segunda a sexta, das 10h às 17h, exceto feriados
Sala Grande Otelo (210 lugares + 04 assentos para cadeirantes)
Sala Oscarito (104 lugares)
Retirada de ingresso 1h antes do início da sessão
SÁBADO, 26 de abril
19h – O DRAMA DAS SECAS
Brasil, 1958, 6 min, p&b, livre
Direção: Rodolfo Nanni
Elenco: Maurício Barroso
Sinopse: O sertão brasileiro e a seca. Inspirado na obra “Geografia da fome” (1946), de Josué de Castro.
O RETORNO
Brasil, 2008, 75 min, cor, livre
Direção: Rodolfo Nanni
Elenco: Gildete Vieira Pinto, Antônio Menézio Pinto, Aparecida Vieira Pinto, Mariana Nadiene Bezerra da Silva, Santelmo Emílio Araújo
Sinopse: Em 1958 Rodolfo Nanni realizou o documentário “O drama das secas” na região do semiárido nordestino. Meio século depois, o diretor volta ao nordeste, perfazendo o mesmo roteiro das locações do filme anterior. Agora, ele aborda não apenas as dificuldades dos pequenos agricultores, que continuam a enfrentar enormes dificuldades, mas também examina a questão das mudanças climáticas globais e suas consequências devastadoras.
21h – SÃO PAULO CENTRO
Brasil, 1975, 12 min, cor, livre
Direção: Rodolfo Nanni
Elenco: Homero Filho
Sinopse: Pequena história do centro da cidade de São Paulo: da sua fundação e da beleza colonial do final do século XVIII até os dias de hoje, passando por múltiplas transformações e destruições
CORDÉLIA, CORDÉLIA…
Brasil, 1971, 96 min, cor, 16 anos
Direção: Rodolfo Nanni
Elenco: Lilian Lemmertz, Francisco Di Franco, Pedro Paulo Hatheyer, Miguel Di Pietro, Wesley Duke, Joe Kantor, Nadir Fernandes, Célia Helena
Sinopse: Cordélia é uma secretária angustiada que encontra dificuldades em conseguir a ascensão social que tanto almeja. Cansada do seu marido desempregado e malandro, ela começa a se envolver com seu chefe e, depois, com um vendedor de carros. Entre essas relações, Cordélia procura algum refúgio. Baseado na peça “O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez” (1968), de Antônio Bivar
DOMINGO, 27 de abril
18h30 – O SACI
Brasil, 1953, 65 min, p&b, livre
Direção: Rodolfo Nanni
Elenco: Paulo Matozinho, Lívio Nanni, Aristéia Paula Souza, Olga Maria, Maria Rosa Moreira Ribeiro, Benedita Rodrigues, Otávio de Araújo
Sinopse: Pedrinho, Narizinho e a boneca de pano Emília moram no Sítio do Picapau Amarelo, junto com sua avó Dona Benta e Tia Nastácia. Pedrinho visita frequentemente o Tio Barnabé para ouvir suas histórias sobre o Saci, um travesso ser de uma perna só que habita a floresta. Um dia, Pedrinho consegue prender o Saci em uma garrafa. No entanto, quando Narizinho é transformada em pedra pela feiticeira Cuca, Pedrinho precisa da ajuda do Saci para quebrar o feitiço. Baseado no livro “O Saci” (1921), de Monteiro Lobato.
SCI FI SACI
Brasil, 2025, 23 min, p&b/cor, livre
Direção: Rewald & Ab’Sáber
Elenco: Rodolfo Nanni
Sinopse: O saci, o fim do mundo e os cem anos de um cineasta.
Sessão seguida de debate com Rodolfo Nanni, Rubens Rewald e Tales Ab’Sáber
CINEMATECA BRASILEIRA
A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social.
O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.