Para Marta Pagotto, organizadora do e-book, o projeto busca mostrar que as mulheres podem atingir o seu maior potencial para realizar escolhas e promover mudanças. O documento foi criado pelo Observatório do Terceiro Setor, em parceria com o Coletivo Linhas de Sampa
O Observatório do Terceiro Setor lançou um e-book para exaltar a vida de mulheres protagonistas na luta por liberdade e democracia. O documento expõe microbiografias de mais de 20 heroínas brasileiras, ilustradas com imagens de panfletos bordados em pano, cedidas pelo Coletivo Linhas de Sampa.
O e-book, lançado em 08 de março, Dia Internacional da Mulher, foi intitulado como “Metamorfoses: a vida de mulheres que despertaram seus potenciais para saírem do casulo e transformarem o mundo em algo melhor”, focado em contar a trajetória de personalidades fundamentais para os mais de 500 anos de registro histórico do Brasil.
Todas as mulheres citadas possuíam algo em comum, o desejo de transformar a realidade para o bem-estar comum a partir de seus talentos, independentemente da área de conhecimento. Dessa forma, o livro traz histórias de cientistas, artistas, militantes e muito mais, cujas atitudes ou ideias quebraram paradigmas e serviram de inspiração para mudanças reais na sociedade.
Beatriz Donatelli, responsável pela produção e redação do e-book, conta que a ideia de criar o Metamorfoses surgiu em 2024, após uma série de posts nas redes sociais do Coletivo Linhas de Sampas, os quais comemoravam o Dia Internacional da Mulher com as imagens dos panfletos bordados.
“Essas postagens conversavam muito com o quadro ‘Você Conhece?’, que o Observatório do Terceiro Setor criou para apresentar figuras históricas brasileiras e internacionais que se destacaram por seus feitos em prol da humanidade. Em conversas internas, resolvemos organizar um livro virtual para essa comemoração do Dia Internacional das Mulheres de 2025”, disse Beatriz. Segundo ela, o Observatório contatou os responsáveis pelo Linha de Sampa, que prontamente aceitaram participar do projeto.
Dia Internacional das Mulheres
O lançamento do e-book aconteceu no Dia Internacional da Mulher, data que marca a reflexão sobre os direitos das mulheres, celebra as suas conquistas e reafirma a importância da luta pela igualdade de gênero. A data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975.
“A desigualdade de gênero sempre existiu na humanidade, cujo desenvolvimento baseou-se em sociedades patriarcais que reservava às mulheres um papel de submissão aos homens. A história nos mostra o quanto as mulheres tiveram que lutar, aqui no Brasil e no mundo, para ir conquistando espaços na sociedade e romper com os papéis a que lhes eram destinados. E ainda hoje essa desigualdade continua forte”, afirmou Marta Pagotto, organizadora do e-book.
Nesse contexto, Marta afirma que o documento busca mostrar que as mulheres podem atingir o seu maior potencial para realizar escolhas e promover mudanças, ao nível local ou global. “A ideia da lagarta sair do casulo para transformar-se em borboleta é a metáfora escolhida para representar essa possibilidade”.
ODS 5 (Igualdade de gênero)
Apesar da luta constante por igualdade e das conquistas das mulheres ao longo das décadas, o sexismo e a misoginia continuam presentes em diversas esferas da sociedade. “É só olharmos as estatísticas em relação às metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, principalmente no que diz respeito a violência de gênero, educação, saúde e práticas abusivas”, alerta Marta.
A Agenda 2030 da ONU, definiu em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a criação de um objetivo específico voltado às ações de igualdade de gênero. O ODS 5 visa, até 2030, alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. No entanto, as suas metas permanecem longe de serem cumpridas.
A meta 5.2, por exemplo, cujo foco é eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, está longe de acabar. Em 2023, todos os índices de violência contra a mulher cresceram, segundo o Anuário de Segurança Pública 2024. O relatório mostrou que as modalidades de violência psicológica, stalking, importunação e assédio sexual foram os tipos de agressão contra a mulher com maior aumento no período, em relação ao ano anterior.
Outra meta que precisa melhorar é a 5.5. Ela pretende garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
No entanto, essa afirmação não acontece em nenhuma das esferas da sociedade. Uma pesquisa da FIA Business School mostrou que, em 2023, as mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no país. O levantamento analisou respostas de mais de 150 mil funcionários de 150 grandes empresas no Brasil, premiadas com o selo Lugares Incríveis para Trabalhar 2023.
Na política, as mulheres também são minoria. Nas Eleições Municipais de 2024, cerca de 15% dos municípios brasileiros tiveram uma mulher eleita como prefeita. Apesar do número recorde, o percentual continua desproporcional à quantidade de homens nesses cargos executivos.
A diferença fica ainda mais evidente quando os dados demográficos do Brasil são considerados. Conforme o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48,5% dos brasileiros eram homens e 51,5% eram mulheres, em 2022.
O que significa ser mulher?
Antes de sua introdução, o e-book conta com um texto escrito pela fundadora e presidente da comunidade Reinventando a Educação, Irene Reis. Com o título, “o que significa ser mulher”, a passagem fala sobre as experiências, identidades e conquistas das mulheres ao longo da história. “Ser mulher tem muito pouco a ver com nascer com vagina! Ser mulher tem a ver com a maneira como queremos nos expressar no mundo, tem a ver com a energia de amor, que nutre a vida e não suporta a morte, a guerra”.
Como baixar o e-book
Os interessados em conhecer mais sobre a vida e luta das mulheres que marcaram a história do Brasil podem baixar o e-book acessando o site do Observatório do Terceiro Setor. Basta preencher o formulário e fazer o download gratuito.
Observatório do Terceiro Setor
Fundado em 2012 pelo jornalista Joel Scala, o Observatório do Terceiro Setor é uma agência multimídia de conteúdo focada em dar visibilidade às boas práticas das organizações da sociedade civil no Brasil. O jornalista tinha como motivação dar voz aos atores que fazem a diferença na realidade social brasileira. A plataforma conta com programas de rádio, TV e canais digitais que promovem debates sobre educação, saúde, direitos humanos, cultura e meio ambiente, sempre visando construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Linhas de Sampa
Fundado em 2018, o Linhas de Sampa é um coletivo de pessoas de esquerda que utiliza o bordado em pano como um panfleto para transmitir mensagens sobre temas urgentes relacionados a direitos humanos, democracia e justiça social.
Em 2021, o coletivo lançou o projeto “Mulheres em Movimento”, o qual reuniu folhetos bordados de mulheres que defenderam suas ideias e romperam paradigmas ao longo da história do Brasil, mas nem sempre aparecem nas páginas da história do país.
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