Ainda Temos o Amanhã (por Kell C. Pedro)

            Ainda Temos o Amanhã (C’è Ancora Domani, 2023), longa-metragem italiano de comédia dramática, distribuído pela Pandora Filmes, estreia, oficialmente, nos cinemas nacionais, no dia 04 de julho de 2024, com classificação indicativa 16 anos e 118 minutos de duração.

            Estreia na direção de Paola Cortellesi, que ainda atua e co-escreve o roteiro com Furio Andreotti e Giulia Calenda. O filme se passa na Itália pós segunda guerra, por volta de 1946, um período marcado por grandes transformações sociais e pessoais. A protagonista, Delia, interpretada pela própria Cortellesi, é uma mulher que se vê dividida entre os papéis tradicionais de esposa e mãe e o desejo de buscar sua própria identidade e liberdade. O marido autoritário de Delia, Ivano, interpretado por Valerio Mastandrea, representa as convenções sociais da época, enquanto a amiga Marisa, vivida por Emanuela Fanelli, oferece um contraponto de apoio e compreensão.

            O filme explora a dinâmica familiar e as expectativas sociais com uma profundidade que evita clichês, optando por uma abordagem mais realista e matizada. A filha mais velha de Delia, Marcella, cujo papel é desempenhado por Romana Maggiora Vergano, está prestes a se casar, e é através deste evento que a trama se desenrola, revelando segredos e tensões que desafiam a harmonia familiar. A chegada de uma carta misteriosa serve como catalisador para mudanças significativas na vida de Delia, impulsionando-a a questionar e, eventualmente, a desafiar as normas que a confinam.

            O longa foi inteiramente filmado em preto e branco, o que confere visualmente, uma fotografia que captura a beleza e a melancolia da Roma do pós-guerra, o que contribui para a atmosfera nostálgica e reflexiva do filme. A direção de Cortellesi é segura e sensível, permitindo que os personagens se desenvolvam de maneira orgânica, sem pressa, o que é essencial para a construção do impacto emocional da narrativa.

            A trilha sonora complementa perfeitamente o tom do filme, com composições que realçam os momentos de introspecção e as reviravoltas dramáticas. O roteiro é habilmente construído, entrelaçando subtramas e personagens secundários de maneira que enriquece a história principal sem sobrecarregá-la.

            As atuações são outro ponto forte. Cortellesi entrega uma performance poderosa e cheia de nuances, capturando a complexidade de Delia com uma autenticidade que transcende a tela. Mastandrea, como Ivano, é convincente em seu papel de patriarca tradicional, e Fanelli oferece uma atuação memorável como Marisa, trazendo uma leveza e uma perspectiva moderna que contrastam com o ambiente opressivo da casa de Delia.

            O filme foi bem recebido pela crítica e pelo público, ganhando prêmios no Festival de Cinema de Roma e se tornando um sucesso de bilheteria na Itália. As indicações e prêmios recebidos no 69º David di Donatello, incluíram Cortellesi como Melhor Estreia na Direção e Melhor Atriz.

            Em suma, “Ainda Temos o Amanhã” é um filme que não apenas entretém, mas também provoca reflexão. Ele nos convida a considerar as escolhas e sacrifícios feitos pelas mulheres em uma época de grande opressão e mudança, e faz isso com graça e força.

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